A quadrinista Paula Puiupo selecionou 36 obras originais para expor na mostra solo Casca de Ferida. A exposição fica em cartaz na 9ª Arte Galeria (R. Augusta 1371, loja 113), em São Paulo, entre os dias 27 e 31 de agosto. Você confere outras informações sobre a abertura da mostra na página do evento no Facebook, clicando aqui.
Entre ilustrações, páginas da HQ Gume e pinturas, as obras escolhidas por Puiupo para a exposição foram todas produzidas entre 2018 e 2019, sendo a maior parte delas produzida com o uso de carvão e tendo como principal foco temas relacionados a memória e infância.
“Sempre que preciso fazer um apanhado de trabalhos antigos paro um tempo pra pensar sobre o que mudou de lá pra cá”, conta a autora ao blog sobre o balanço feito por ela enquanto elaborava a curadoria dos trabalhos que serão expostos. No papo a seguir, Puiupo fala sobre os bastidores de Casca de Ferida. Papo bão, saca só:
“Mesmo uma pintura sozinha tem narrativa, pode não ser sequencial, mas tem coisas pra contar, tem um processo gradual ali”
Você pode falar um pouco sobre a curadoria dessa exposição na 9ª Arte Galeria? Ela é feita a partir de algum recorte específico dos seus trabalhos?
Visto que boa parte do meu trabalho é digital, já tive a limitação de selecionar trabalhos dentro da minha produção em mídia tradicional. Por terem esse ponto comum, as obras acabam conversando entre si na plasticidade. Também são todos dos anos de 2018 / 19, que foi quando comecei a experimentar mais com carvão, temas rondando memória e infância… Constantes.
No catálogo da exposição consta que as obras que estarão expostas são produzidas a partir de três materiais: grafite, giz pastel oleoso e lápis de cor. O que mais te interessa em cada um desses materiais? Você tem alguma técnica e material de trabalho preferidos?
No carvão e no lápis de cor me atrai a precisão que o suporte de madeira em torno do pigmento me dá, os acidentes são mais controlados e posso ser mais minuciosa do que se usasse um pincel ou algo assim. Já no pastel oleoso, os acidentes são mais audazes, o material tem uma tridimensionalidade maior, trabalhar cor com eles é um processo mais dinâmico. Adoro o aveludado que ele deixa no papel, e poder usar os dedos para espalhar a tinta me faz sentir realmente em contato com o material. São processos bem diferentes e cada um requer um tipo de paciência diferente, gosto de exercitar essas paciências.
Essa exposição reúne ilustrações, pinturas e páginas de quadrinhos. Existe alguma distinção na sua cabeça em relação a como encarar cada um desses trabalhos? É muito diferente para você o ato de pensar e trabalhar em uma tela do processo de produzir uma HQ ou fazer uma ilustração?
É engraçado, não vejo como coisas tão diferentes. Talvez pelo meu trabalho de quadrinhos não ter os pés fincados no linear. Mesmo uma pintura sozinha tem narrativa, pode não ser sequencial, mas tem coisas pra contar, tem um processo gradual ali. O processo de fazer a série de pinturas expostas foi muito semelhante com o pensar em forma de quadrinhos, e vice-versa.
“Acho que no momento estou num processo contínuo de sintetizar o meu traço máximo possível”
Eu imagino que uma exposição como essa acaba também sendo uma oportunidade para você refletir e pensar sobre a sua produção. Isso aconteceu com você? Você nota muitas mudanças e transformações na forma como você pensa e faz quadrinhos ao longo dos anos?
Nossa sim, sempre que preciso fazer um apanhado de trabalhos antigos paro um tempo pra pensar sobre o que mudou de lá pra cá… Acho que no momento estou num processo contínuo de sintetizar o meu traço máximo possível. E também num processo de me distanciar do que por muito tempo eu tive como uma forma “correta” de fazer quadrinhos. Quero cada vez mais me desprender do tradicional e só me divertir desenhando.
O que mais te interessa em termos de quadrinhos hoje, Paula? O que você mais tem interesse em ler e tentar fazer e experimentar com a linguagem das HQs?
Hoje vejo quadrinhos como uma arte que pode se apropriar de linguagens qualquer estímulo visual. Por mais que não transpareça tanto, o que mais me interessa em quadrinhos são os diálogos e a relação entre personagens, coisas que não exploro tanto no meu próprio trabalho, mas ultimamente tenho assistido filmes e prestado muita atenção na naturalidade da fala, pra mim um quadrinho que captura essa naturalidade é um quadrinho bem feito. Se ele tem algo sincero e maduro pra dizer, o resto é o de menos.
Pra encerrar, no que você está trabalhando agora? Você já tem alguma próxima publicação em vista? Se sim, o que pode falar sobre ela?
Tô trabalhando em algumas coisas… Os quadrinhos como sempre andam em passos calmos, tenho uma pequena série que faço todo mês para o Patreon e pretendo publicar um compilado deles este ano ainda, quem sabe em outubro… Também tenho trabalhado bastante com ilustração e narrativas menos sequenciais, quem sabe um quadrinho mais experimental não sai daí.