Escrevi sobre Bom Dia, Socorro (Conrad), obra de Paulo Moreira, para o anúncio das obras vencedoras do Prêmio Grampo 2023 de Grandes HQs. O título ficou em segundo lugar na premiação, atrás de Mukanda Tiodora (Veneta), de Marcelo D’Salete, e à frente de Meu Diário de Nova York (Veneta), de Julie Doucet. Você confere o resultado completo do Grampo 2023 clicando aqui e as 20 listas individuais do júri clicando aqui. A seguir, o meu texto sobre Bom dia, Socorro:
Paulo Moreira e o neorrealismo cômico (e fantástico) de Bom Dia, Socorro
Paulo Moreira e seu Bom Dia, Socorro são o elo entre a mais tradicional escola dos quadrinhos brasileiros e o movimento mais celebrado das HQs nacionais contemporâneas. O autor paraibano é um dos mais prolíficos representantes da longeva cena brasileira de humor gráfico e seu trabalho publicado pela editora Conrad é um exemplar desviante do que pode ser chamado de neorrealismo brasileiro em quadrinhos.
As tiras e os quadrinhos curtos de Moreira são caracterizados pelo absurdo, pelo nonsense laerteano que ecoa trabalhos de lendas como Millôr Fernandes, Jaguar e Henfil. Seu desenhos e suas cores são incríveis e sua narrativa brilhante, mas seu mérito maior está na capacidade de exposição dos disparates da vida cotidiana. Com humor. E um repertório imenso de cultura pop. Além de uma oralidade digna dos melhores momentos de Marcello Quintanilha.
Quintanilha é, aliás, o grande representante de uma leva recente de obras e autores brasileiros com paralelos com o cinema neorrealista italiano, um diálogo que foi apontado em 2017 pelo crítico espanhol Álvaro González. O paulista Marcelo D’Salete, o também paraibano Shiko e o paraense Gidalti Jr. seguem na mesma toada neorrealista, às vezes com cores e a presença de elementos fantásticos. É por aí que Paulo Moreira se envereda, mas com humor. Há um peso imenso do contexto socioeconômico de classe média e da ambientação suburbana em Bom Dia, Socorro. A batalha épica de troca de mensagens entre suas protagonistas, Socorro e Beta, é um dos retratos quadrinísticos mais célebres do que é o Brasil contemporâneo.
Sem querer pedir muito, mas já pedindo, gostaria que Moreira investisse em outras obras mais longas como Bom Dia, Socorro. Sem diminuir o ritmo com seus trabalhos com tiras e quadrinhos curtos, é óbvio. Ele é uma amostra do melhor que as HQs nacionais têm a oferecer.