Cê reparou a quantidade de bons quadrinhos publicados no Brasil durante o mês de março? Se o ano terminasse amanhã, já dava pra montar uma lista bem massa de 10 melhores só com o que saiu por aqui ao longo das últimas semanas. Sem FIQ ou Bienal de Quadrinhos em 2019, é provável que os principais títulos de autores brasileiros fiquem pra Comic Con Experience, então ainda tem muita coisa pra rolar, mas é difícil imaginar outro mês com o mesmo volume de bons lançamentos como março.
A Companhia das Letras lançou Minha Coisa Favorita é Monstro, da Emil Ferris; a Veneta publicou Luzes de Niterói, de Marcello Quintanilha; a Nemo lançou David Boring, do Daniel Clowes, e Intrusos, do Adrian Tomine. A HQ mais celebrada do mundo no momento, a nova obra do mais aclamado quadrinista brasileiro contemporâneo, um trabalho inédito no Brasil de um dos maiores mestres dos quadrinhos mundiais e o primeiro álbum solo de Tomine em português.
A Panini publicou o oitavo e último número de Pluto, do Naoki Urasawa, e também colocou nas bancas uma necessária edição barata de Sandman após anos de versões em capa dura e luxos desnecessários; a Veneta também lançou Manifesto Comunista em Quadrinhos, do britânico Martin Rowson; a DarkSide lançou o ótimo Floresta dos Medos, da Emily Carroll; a Mino imprimiu Escapo, do Paul Pope; e a Escória Comix publicou Esgoto Carcerário, da quadrinista Emilly Bonna – aliás, aproveito a deixa pro registro: não há editora brasileira com linha editorial tão consistente quanto o selo do quadrinista/editor Lobo Ramirez.
Também chamo atenção pros anúncios das últimas semanas: a Pipoca & Nanquim prometeu Lone Sloane, de Philippe Druillet; a DarkSide Books anunciou Big Baby, coletânea com alguns dos primeiros trabalhos de Charles Burns, e disse que lança até o final do ano o aclamado Beautiful Darkness, da dupla Fabien Vehlmann e Kerascoët; a Mino publica em breve Eu Matei Adolf Hitler, do sempre excelente Jason; e a Todavia colocará logo mais nas lojas o segundo dos três volumes de Bone.
Eu não dei conta. Não li metade do que gostaria e não escrevi sobre um terço do que tinha em mente. Melhor assim, prefiro precisar escolher do que opções escassas, mas repara só: foquei em lançamentos de editoras e só dois desses títulos são nacionais, um pela Veneta e outro pela Escória. Acabou o interesse dos editores nacionais por autores brasileiros? Uma maravilha todas essas publicações gringas, mas tudo muito seguro, nomões e obras consagradas lá fora. São tempos de crise, claro, daí todo mundo com o pé no freio, mas sinto falta de umas apostas inusitadas, subversivas e nacionais. Estarei no aguardo do que sai pelos próximos nove meses, aí voltamos a conversar sobre isso mais pro final do ano.