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HQ

Shiko prepara terreno para final épico de tetralogia da vingança com Carniça e a Blindagem Mística – Parte 3: A Morte Anda no Mundo

A expectativa inicial do quadrinista Shiko era finalizar a série Carniça e a Blindagem Mística em três volumes. A primeira edição, É Bonito o Meu Punhal, foi lançada em dezembro de 2020. Em setembro de 2021 saiu A Tutela do Oculto. Ele acaba de publicar Carniça e a Blindagem Mística – Parte 3: A Morte Anda no Mundo, revelando que a saga de vingança de Carniça e seu bando só chegará ao fim em uma quarta edição – atualmente em produção e sem previsão de lançamento.

Primeira grande HQ brasileira de 2023, a terceira parte de Carniça soa como um entreato. No álbum de 2020 Shiko mostrou a reunião da heroína que dá título à série com sua filha, Jurema. Em 2021 ele explorou as origens de Carniça e sua relação com o sobrenatural. A Morte Anda no Mundo narra a formação do bando de mulheres cangaceiras, apresenta um acerto de contas e prepara terreno para “uma derradeira coisa” – nas palavras de sua protagonista.

O álbum abre dando continuidade aos eventos de A Tutela do Oculto. Carniça segue em sua desforra contra os abusos de seu passado, mas agora na companhia de suas duas companheiras de bando. Depois a história retorna para seu cenário mais recente, em 1923, com o bando já contando  com Jurema.

Quadro de Carniça e a Blindagem Mística – Parte 3: A Morte Anda no Mundo (independente), obra de Shiko

A Morte Anda no Mundo é composto basicamente por duas grandes sequências, ambas acompanhadas por “trilhas sonoras”. Shiko usa a letra de A Velha da Capa Preta, de Siba e a Fuloresta, para mostrar uma série de assassinatos cometidos pelo bando de Carniça. Depois, ele cria o clima do trecho derradeiro ao som de Te Encontra Logo… do Cidadão Instigado

Quadro de Carniça e a Blindagem Mística – Parte 3: A Morte Anda no Mundo (independente), obra de Shiko

Tem algo de tarantinesco na forma como o quadrinista incorpora a letra das músicas à trama. Na sequência com a canção do Cidadão Instigado, a primeira lembrança que me veio à mente foi a cena de Bastardos Inglórios na qual Shosanna (Mélanie Laurent) prepara sua desforra contra o alto escalão nazista enquanto David Bowie canta Cat People (Putting Out Fire)

Aí vem o final sanguinolento da HQ, com Shiko direcionando todo o virtuosismo de sua arte em prol da brutalidade de sua história.

Ainda é necessário o capítulo final de Carniça e a Blindagem Mística para compreendermos o significado dessa tetralogia da vingança do autor entre seus trabalhos. Atualmente, após três edições, Carniça é cada vez mais candidata potencial a um lugar de destaque entre os grandes títulos das HQs nacionais.

A capa de Carniça e a Blindagem Mística – Parte 3: A Morte Anda no Mundo (independente), obra de Shiko
HQ

Shiko incute ódio e vingança em Carniça e a Blindagem Mística – Parte 2: A Tutela do Oculto

O quadrinista Shiko focou Carniça e a Blindagem Mística – Parte 2: A Tutela do Oculto nas origens de Carniça, líder do bando que protagoniza a série, e nas motivações de seu grupo. Assim como o primeiro álbum, o autor intercala o presente da história com o passado de suas personagens. Ele dá início a essa segunda edição com um tiroteio entre suas quatro personagens principais e outro grupo de cangaceiros em meio a flashbacks que mostram a transformação da jovem Mazinha em Carniça.

A Tutela do Oculto amplifica a intensidade de Carniça e a Blindagem Mística – Parte 1: É Bonito o Meu Punhal, lançado no fim de 2020. Suas críticas sociais são mais enfáticas, o protagonismo das mulheres mais explícito, a violência mais gráfica e o lirismo mais poético. Shiko também deixa mais claras as ambições de Carniça em sua jornada de vingança.

Ainda como Mazinha, refém do bando de Cancão, a personagem principal acaba vítima de punições por uma traição cometida contra o líder do grupo de cangaceiros. Sua transformação em Carniça é apresentada em uma sequência brilhante envolvendo uma carranca e a exposição de algumas das várias mulheres por quem ela deverá se vingar.

“Enquanto tiver essa qualidade de macho pelo meu caminho… Eu jurei sair transformando essa estrada em pasto de urubu”, diz Carniça após ter sua história contada à filha que reencontrou no primeiro número do quadrinho.

Página de Carniça e a Blindagem Mística – Parte 2: A Tutela do Oculto (Divulgação)

O mérito maior de Shiko nessas duas primeiras edições de Carniça e a Blindagem Mística está na clareza com a qual apresenta os sentimentos das personagens. Com dois terços de sua trama apresentados, ele incutiu nas 96 páginas publicadas até aqui todo o ódio de suas quatro heroínas.

A sequência final de A Tutela do Oculto, iniciada com uma visita de Carniça a uma capela abandonada, cercada por ex-votos, e seguida por seu confronto com Cancão e seu bando é memorável. Aplaca um pouco a sede por vingança instada pelo autor, mas não a fúria da protagonista em sua desforra contra os abusos de seu passado. Fica para o terceiro número.

Carniça e a Blindagem Mística reforça Shiko como um dos meus autores preferidos. Seus trabalhos tratam de questões relevantes, falam sobre o presente mesmo quando ambientados no passado ou em realidades alternativas, e são extremamente refinados no uso da linguagem dos quadrinhos. Sua arte virtuosa contrasta com a objetividade e a eficácia de sua narrativa. Mas além disso tudo (e, possivelmente, mais importante) suas HQs são legais para caramba. Estou novamente na seca pela próxima edição. 

[[Leia também, Sarjeta #16: Carniça e a Blindagem Mística é brutal, crítica e lírica como as melhores HQs de Shiko]]

A capa de Carniça e a Blindagem Mística – Parte 2: A Tutela do Oculto (Divulgação)