Entrevistei o escritor inglês Alan Moore, autor de alguns dos maiores clássicos das HQs mundiais. A nossa conversa teve como ponto de partida Iluminações, coletânea de contos do autor britânico publicada no Brasil pela editora Aleph, com tradução de Adriano Scandolara e capa de Pedro Inoue. O meu papo com Moore é conteúdo exclusivo da edição nacional de Iluminações, logo mais disponível nas melhores livrarias.
Posts por data outubro 2022
Os 10 finalistas da categoria Histórias em Quadrinhos do Prêmio Jabuti 2022
Fui um dos jurados da categoria Histórias em Quadrinhos na edição de 2022 do Prêmio Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do país. Junto comigo no júri de histórias em quadrinhos dessa 64ª edição do Jabuti estiveram o jornalista e pesquisador Érico Assis e professor e pesquisador Waldomiro Vergueiro. Já foram anunciados os 10 finalistas de cada uma das 20 categorias do prêmio. Os cinco finalistas de cada categoria serão revelados no próximo dia 8 de novembro e as obras vencedoras serão anunciadas no dia 24 de novembro, em cerimônia no Theatro Municipal de São Paulo. Deixo aqui o link para os finalistas de todas as categorias e o link para os demais jurados do Jabuti 2022.
Compartilho a seguir os 10 títulos finalistas da categoria Histórias em Quadrinhos na 64ª edição do Prêmio Jabuti:
-A menor distância entre dois pontos é uma fuga (independente), por Gabriel Nascimento e João Henrique Belo;
-Arlindo (Seguinte), por Ilustralu;
-Brega Story (Brasa Editora), por Gidalti Jr.;
-Cidade pequenina (Pipoca & Nanquim), Aldo Solano e Camilo Solano;
-Escuta, Formosa Márcia (Veneta), por Marcello Quintanilha;
-Gioconda (Nemo), por Felipe Pan, Mariane Gusmão e Olavo Costa;
-Manual do Minotauro (Quadrinhos na Cia.), por Laerte;
-Mapinguari (FTD), por André Miranda e Gabriel Góes;
-Risca Faca (Monstra), por André Kitagawa;
-Shamisen: canções do mundo flutuante (Pipoca & Nanquim), por Guilherme Petreca e Tiago Minamisawa.
O Vitralizado vai virar livro! Confira a capa de Fabio Zimbres para ‘Vitralizado – HQs e o mundo’, pela editora MMarte
No mês de aniversário de 10 anos do Vitralizado, anuncio a grande novidade do blog para 2022: um livro reunindo as principais reportagens e entrevistas sobre histórias em quadrinhos realizadas por mim desde 2012. Vitralizado – HQs e o Mundo será publicado pela editora MMarte e entrará em pré-venda nas próximas semanas (em breve conto mais!). Compartilho hoje a capa da obra, assinada pelo quadrinista Fábio Zimbres, autor da série Vida Boa (Zarabatana Books) e coautor do clássico Música para Antropomorfos (Zarabatana Books).
O livro conta ainda com participações especiais do crítico e tradutor Érico Assis, da tradutora e pesquisadora Maria Clara Carneiro e dos editores Rogério de Campos (Veneta) e Douglas Utescher (Ugra Press), mas falo sobre isso tudo mais para frente. Também vou deixar para o início da pré-venda informações sobre formato, número de páginas e preço. Hoje o foco é a capa e um pouquinho do conteúdo.
Além de posts exclusivos do blog, Vitralizado – HQs e o Mundo também apresenta trabalhos feitos para algumas das publicações com as quais colaborei ao longo dos últimos anos (Folha de S.Paulo, O Globo, Itaú Cultural, UOL, Rolling Stone e outras). São reportagens, análises e entrevistas com reflexões sobre o mundo e os quadrinhos partindo de autores brasileiros e estrangeiros, de artistas independentes e de nomes renomados internacionalmente, além de quadrinistas de diferentes estilos e origens falando sobre alguns de seus trabalhos mais celebrados.
Então tá aí a novidade. Logo mais volto com outras informações sobre o livro. Compartilho a seguir a capa aberta da obra, saca só que massa:

Lockdown, por Chris Ware
Já viu a capa mais recente do Chris Ware para a New Yorker, né? É a edição da revista com data de hoje (17 de outubro de 2022). O Érico Assis traduziu o depoimento do autor de Building Stories e Jimmy Corrigan para o site da publicação, falando sobre sua inspiração por trás desse trabalho (você lê o texto em português clicando aqui). A arte do Chris Ware foi batizada de Lockdown e retrata estudantes passando por um treinamento para casos de tiroteios no interior de uma escola.
Deixo o registro porque noticio grande parte da produção do Chris Ware – e sempre aproveitando para deixar os links para as entrevistas que fiz com ele (aqui e aqui).
Mas aproveito para lembrar de outras capas que o Chris Ware fez para a New Yorker ambientadas em escolas, com algumas delas também girando em torno de atentados. Ele sempre credita seus conhecimentos e interesses sobre o tema às preocupações e vivências da filha dele, como estudante, e da esposa dele, como professora. Você lê os comentários do autor sobre esses cinco trabalhos clicando aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. Saca só:





Papo com Paul Kirchner, autor de Ônibus: “Restrições podem ser um estímulo à criatividade”
Conversei com o quadrinista norte-americano Paul Kirchner sobre Ônibus, série originalmente publicada entre 1978 e 1985 na revista Heavy Metal e lançada em português pela editora Risco (com tradução de Érico Assis). Usei esse papo de base para uma reportagem que publiquei no jornal Folha de S.Paulo. Escrevi no meu texto sobre as origens de Ônibus e a proposta da série, apresentei algumas das experimentações feitas pelo autor e também falei sobre o culto crescente em torno da obra. Você lê o meu texto clicando aqui. Compartilho a seguir, a íntegra da minha entrevista com Paul Kirchner:
“Sempre fui atraído pelo surrealismo, por misturar fantasia e realidade”
Gostaria de saber um pouco sobre o ponto de partida do Ônibus. Você teve algum momento ou incentivo em particular para começar a desenvolver a série?
No final dos anos 1970, eu queria criar uma história em quadrinhos que pudesse fazer regularmente como fonte de renda. Eu esperava vendê-la para o Village Voice, um tablóide semanal de contracultura publicado no Greenwich Village, em Nova York. Fiz dez tiras como amostra, trabalhando em tamanho grande, duas vezes o tamanho que apareceriam no jornal. O Village Voice recusou, o que foi bom porque eu nunca poderia ter produzido as tiras semanalmente. Levei então para a Heavy Metal, que já havia publicado algumas das minhas histórias. A Heavy Metal comprou. Era útil para eles porque se vendessem um anúncio de meia página, poderiam colocar O Ônibus acima dele.
Você poderia me contar sobre sua rotina de criação do Ônibus? Quero dizer, você teve alguma rotina específica ao produzí-la?
Eu mantenho um arquivo de idéias à medida que elas me ocorrem. Algumas surgem completamente formatadas, prontas para desenhar no papel. Outras são apenas um fragmento de uma ideia que não descobri como fazer funcionar. Eu as mantenho no arquivo e muitas vezes vou descobrir o que elas precisam para funcionar. Eu regularmente pego esse arquivo e folheio para ver se tem alguma coisa que eu possa usar.
O que te motivou a continuar criando O Ônibus? Você teve alguma motivação em particular para continuar produzindo a série? Alguma auto-motivação para continuar produzindo ao longo desses sete anos?
Eu gostava de ter algo que aparecia todo mês na Heavy Metal. As pessoas se familiarizaram com isso e me diziam que era a primeira coisa que procuravam quando recebiam uma nova edição. Parei de produzir as tiras quando a Heavy Metal passou a ser trimestral. Não parecia valer a pena pensar em algo que seria publicada tão raramente. Além disso, no momento em que parei de desenhar, senti que estava sem ideias e estava me ocupando com outros trabalhos de ilustração. Mas quando eu comecei de novo em 2012, novas ideias começaram a vir para mim.
“O desafio é estimular minha mente a continuar pensando em linhas diferentes”
Você poderia me falar um pouco sobre as técnicas e materiais que você usou em Ônibus?
Embora a Heavy Metal fosse uma revista de tamanho padrão, não um tablóide de grande formato como o Village Voice, continuei a desenhar Ônibus em grande escala. Primeiro, pego uma pequena folha de papel e esboço a ideia para ver se funciona dentro de seis ou oito quadros. Em seguida, faço um esboço grosseiro em papel vegetal, colocando todos os elementos visuais onde quero. Usando uma mesa de luz, traço levemente o desenho no quadro de ilustração. Eu uso papel vellum de três camadas da Strathmore. Aperto o desenho a lápis, coloco todos os detalhes, depois passo por cima com tinta. Para arte-finalizar, eu costumava usar uma caneta com ponta Hunt’s 22 e nanquim Higgins. Agora eu finalizo principalmente com uma caneta-tinteiro Noodler Flex-Nib, com tinta Pelikan 4001, mas ainda uso a caneta para linhas finas. Para preencher áreas pretas, uso uma ponta de letras Speedball FB-4, pois não tenho controle suficiente para fazer isso com um pincel.
Uso luvas brancas de algodão descartáveis enquanto trabalho para que minhas mãos não peguem vestígios de tinta e deixem impressões digitais em outros lugares da página. Esse era um problema real antes de encontrar uma solução. Na minha luva direita, corto o polegar e os dois primeiros dedos para poder segurar a caneta.
Ônibus é muito sobre quadrinhos como linguagem. O que mais te interessava em quadrinhos quando você começou a criar O Ônibus? Qual é o seu principal interesse em quadrinhos hoje em dia?
Sempre fui atraído pelo surrealismo, por misturar fantasia e realidade, especialmente quando posso fazer isso de uma maneira engraçada e absurda. Quando comecei a fazer Ônibus, minhas principais influências eram os quadrinhos underground e os quadrinhos vindos da França, além de artistas como M.C. Escher, Hieronymus Bosch, René Magritte. Muito do surrealismo é inspirado na antiga série de televisão Além da Imaginação e nos primeiros desenhos da Warner Brothers.
De certa forma, Ônibus é uma história em quadrinhos formalista, como Garfield, encaixando uma história em caixas quadradas iguais. No entanto, dentro dessas caixas, gosto de fazer truques com perspectiva, lógica e realidades alternativas.
Para mim, Ônibus é muito sobre as restrições que você impôs a si mesmo ao criar esta série. Qual é a importância para você de se impor algumas limitações para desenvolver seu trabalho?
As restrições podem ser um estímulo à criatividade. Não tenho que pensar em todas as possibilidades concebíveis quando procuro ideias. Algo estranho vai acontecer em uma dessas situações: homem espera ônibus, ônibus chega, homem paga passagem, homem procura lugar, o próprio ônibus anda, algo acontece do lado de fora da janela, homem interage com outro passageiro, homem desce do ônibus.
Descobri que geralmente conseguia encaixar minhas ideias em seis ou oito quadros. Se eu tiver uma grande ideia que exija apenas quatro quadros, ou talvez dez quadros, eu me permitiria fazê-lo, mas essa situação não surgiu.
Claro, fazer uma tira sem palavras (na maioria das vezes, embora algumas tenham legendas) é um desafio em si e que eu gosto.
Às vezes parece que eu usei todas as possibilidades. Mas eu me lembro que se eu desse a tira para outros cartunistas, eles teriam várias ideias novas e diferentes porque suas mentes são diferentes da minha. Então, para mim, o desafio é estimular minha mente a continuar pensando em linhas diferentes.
“Originalmente, pensei em fazer uma história em quadrinhos sobre um taxista que pega passageiros estranhos…”
O que é o ônibus de Ônibus para você? Ele tem algum significado pessoal para você?
Pegar um ônibus é uma situação muito comum. Todo mundo entende isso. Portanto, é uma situação ideal para introduzir o absurdo e o surrealismo. O viajante é tão sem graça quanto pode ser. Na verdade, ele é um quadro em branco. Não sabemos seu nome, sua ocupação ou para onde ele está tentando ir. O ônibus, que deveria ser um elemento rotineiro em sua vida, sempre cria o caos. Ao mesmo tempo, e acho que isso faz parte do humor, o viajante nunca parece ficar muito chateado ou animado com o que está acontecendo. Ele segue no automático. É a existência dele.
O viajante é ninguém e todos. O ônibus é o ambiente com o qual ele não tem escolha a não ser interagir. O terceiro personagem repetido é o motorista do ônibus. Ele parece frio, antipático, um guarda prisional que nunca sorri. Ele é tão velho e magro, por que ele ainda está trabalhando? Ele é como Caronte, o barqueiro do mito que te leva através do rio Estige?
E o que Ônibus, a série, significa para você? O que esta série representa para sua carreira e sua vida pessoal?
É por Ônibus e Dope Rider que sou conhecido. Ambos os quadrinhos têm leitores, o que é bom para vendas. Cerca de cinco anos atrás, lancei uma nova tira, Hieronymus & Bosch, sobre um homem medieval no inferno. Eu me diverti com ele, mas o livro não vende tão bem quanto aqueles com os personagens pelos quais sou conhecido. Não estou reclamando disso, é assim que as coisas funcionam e estou feliz em continuar essas outras tiras enquanto puder e enquanto houver um público para elas.
Que tipo de retorno você teve de seus leitores enquanto Ônibus estava sendo publicado? Você recebeu muitas perguntas, cartas e críticas sobre isso? Como os leitores da Heavy Metal respondiam à série?
Quando Ônibus apareceu na Heavy Metal, eu recebia muito pouco feedback dos leitores. Não havia mídias sociais na época, mas eu recebia cartas ocasionais de fã. Parece que foi mais tarde, 10 a 15 anos atrás, que chamou muita atenção, quando as pessoas postaram as tiras no Reddit e no Imgur. Naquela época, a coletânea da Ballantine de 1986 estava sendo vendida por US$ 100 na Amazon. Então Claude Amauger, da Editions Tanibis, entrou em contato comigo para ver se eu gostaria de ver as tiras reimpressas novamente. Ele fez um trabalho maravilhoso e a consequência foi o relançamento de Ônibus.
Qual é a sua relação com o transporte público? Você é usuário de ônibus? Que tipo de presença o transporte público tem na sua vida?
Eu tenho muito pouca conexão com o transporte público. Morei em Nova York por cinco anos, mas geralmente pegava o metrô, não ônibus. Eu também dirigi um táxi por alguns meses. Originalmente, pensei em fazer uma história em quadrinhos sobre um taxista que pega passageiros estranhos, mas decidi que um ônibus ofereceria mais possibilidades. Desde meados da década de 1970 moro em uma área rural onde não há transporte público.
“Conheci crianças que amam as tiras e adultos que as consideram incompreensíveis”
O que você pensa quando seu trabalho é publicado em um país como o Brasil? Você tem alguma curiosidade sobre como um livro que você fez será lido e interpretado em um ambiente tão diferente do seu?
Acho ótimo e espero que os brasileiros gostem do meu estilo de humor. Nem todo mundo faz. Conheci crianças de seis ou sete anos que amam as tiras e as compreendem, mas também adultos que as consideram incompreensíveis. Você não pode apelar para todos. Tenho uma boa impressão sobre o Brasil como uma nação com forte tradição em quadrinhos. Minha graphic novel Assassinato por Controle Remoto foi publicada aí em 1987 [pela L&PM Editores].
Você poderia recomendar algo que você está lendo/assistir/ouvindo agora?
Atualmente estou lendo Memórias, Sonhos, Reflexões, de Carl Jung. Eu nunca o tinha lido, supondo que seria denso e erudito, mas é muito legível e estimulante. Antes disso, li The Twilight World, do Werner Hezog, sobre Hiroo Onada, o soldado japonês que permaneceu escondido na ilha de Luzon por 30 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, uma história que sempre me fascinou. Antes disso, li True Believer: The Rise and Fall of Stan Lee, de Abraham Riesman, que é uma história convincente do homem falho que se autopromovia como o criador do Universo Marvel.
Nos quadrinhos, adoro o trabalho de Jesse Jacobs, particularmente seus livros recentes Crawl Space e They Live in Me. Eu amo a série de quadrinhos de Ben Ward, One Giant Hand, que é publicada online. Recentemente reli todos os álbuns de Philippe Druillet dos anos 1970. Ele foi uma grande influência para mim naquela época e ainda é.
Não tenho muito interesse em filmes de super-heróis, embora tenha gostado de Deadpool, Logan, Capitão América: O Primeiro Vingador e Homem de Ferro. Eu gosto mais das histórias de origem e gosto de super-heróis cujos poderes são mais plausíveis.
Nos últimos anos vi alguns animes que me impressionaram e inspiraram, como Paprika e Perfect Blue, de Satoshi Kon; Redline, de Takeshi Koike; e Ghost in the Shell e Ghost in the Shell 2: Innocence, de Mamori Oshi. Acho os temas e as imagens desses trabalhos muito marcantes e originais.
Você está trabalhando em algum novo projeto em particular agora?
Eu tenho um quadrinho mensal de uma página na revista High Times, Dope Rider. Eu gasto muito tempo tentando ter ideias para isso e fazê-lo do começo ao fim me leva cerca de oito dias. Também estou trabalhando no terceiro volume de Ônibus. O segundo volume teve 48 novas histórias em quadrinhos, então eu tenho que criar pelo menos isso. No momento, tenho 40, com ideias para mais duas, então acho que vou chegar lá. Eu tenho feito as tiras apenas a lápis, pois não tinha certeza se seria capaz de criar o suficiente para preencher um livro e a tinta leva mais tempo do que o lápis. Será uma tarefa e tanto pintar todas essas páginas.
Paul Kirchner fala sobre quadrinhos, restrições, absurdos e Ônibus
Entrevistei o quadrinista Paul Kirchner, autor do clássico experimental Ônibus, publicado originalmente na revista Heavy Metal, entre 1978 e 1985, e lançado em português pela editora Risco, com tradução de Érico Assis. Transformei esse papo em reportagem para o jornal Folha de S.Paulo. Usei algumas falas dele para contar as origens de Ônibus, apresentar a proposta da série, expor algumas das experimentações feitas pelo autor e falar sobre o culto crescente em torno da obra. Você lê o meu texto clicando aqui.