Hoje entra no ar a campanha de financiamento coletivo do álbum PARAFUSO ZERO – Expansão, obra de autoria do quadrinista Jão em que estou trabalhando como editor. A proposta do autor é de “fazer a história em quadrinhos de super-heróis mais estranha que já existiu”. Sou suspeito devido ao meu envolvimento no projeto, mas acredito demais no potencial da HQ e aposto nela como um dos grandes lançamentos de 2019. Anota aí.
Enquanto isso, dou continuidade por aqui à série PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores, na qual apresento a íntegra de depoimentos do Jão registrados durante nossas conversas semanais sobre a produção da HQ. Enquanto o primeiro post foi dedicado às origens do projeto e o segundo tratou de obras passadas do quadrinista, a terceira parte é focada na relação de Jão com seus sonhos e em uma das inspirações do artista para o universo PARAFUSO ZERO. Saca só:
PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #3: Um sonho com Moebius]
“O Moebius era amigo do meu avô”
“Eu tive um sonho com o Moebius. Na verdade, muitas das minhas histórias e dos meus interesses em quadrinhos surgem nos meus sonhos. Muitas vezes eu sonho com um artista que eu gosto, ele fazendo alguma coisa, aí eu vou e copio o que esse artista estava fazendo no sonho. Por exemplo, o conceito da revista PARAFUSO surge assim: eu sonhei que tinha uma revista em que tava uma galera pirando, tinha o Gabriel Góes, o Rafael Sica e mais um pessoal. Tinha um monte de gente fazendo algumas coisas, mas eu não visualizava os trabalhos deles, o que eles estavam fazendo. Aí eu pirei, ‘Nossa, vou copiar esses caras e também criar uma revista’.
Muita coisa que eu sonho, eu vou lá e faço. É uma coisa que me acompanha há muito tempo. Esse sonho do Moebius foi em 2008, eu sonhei que eu tava na casa dos meus avós e o Moebius chegou pra uma visita, no sonho ele era amigo do meu avô. Eu tava lá e aí o Moebius montou a prancheta dele e começou a desenhar. Eu entreguei pra ele um zine que eu tinha lançado na época do sonho, TOTEM. Ele gostou e me deu altas dicas. Foi engraçado, ele sentava na prancheta e desenhava 20 ou 30 páginas em uma única sentada. Aí ele virou pra mim e deu um toque: ‘Cara, não fica pirando demais nesse negócio de desenho não, só desenha, senta aí e faz’. E esse é um conhecimento que sigo… Eu sigo um conhecimento que o Moebius me deu no sonho (risos)”.
Porradaria dentro do ônibus
“Outro rolê do tipo: eu me copio no sonho. Na época que eu lancei a Peiote eu comecei a dar uma estudada sobre o Carlos Castaneda e essas coisas de viagem astral. E aí tinha um rolê que ele falava sobre controlar o próprio sonho. Foi uma coisa que eu comecei a praticar: quando eu tava sonhando, olhava pra minha mão e aí criava uma chave, então ao olhar pra minha mão eu lembrava que estava sonhando. A partir desse momento, eu passava a controlar o meu sonho. Eu demorei um tempo pra conseguir isso, mas… Hoje em dia eu nem faço mais, mas antes eu olhava pra minha mão, sacava que tava rolando e decidia voar e aí saia voando.
Eu tinha uns pesadelos e comecei a dar uma estudada nessa parada e isso tudo acabou me ajudando. Sei lá, eu tinha um pesadelo com alguém correndo atrás de mim, uma coisa assim, aí eu lembrava do rolê de olhar pra mão, eu olhava pra minha e voava, deixava o que estava me perseguindo pra trás. Umas paradas meio esquisitas. Nesse rolê de trabalho teve o sonho que inspirou a revista PARAFUSO e agora eu tô lembrando de um outro sonho que influenciou a PARAFUSO ZERO – Expansão, uma história que alguém fez no meu sonho nesse formato grandão, era um quadro só pegando as duas páginas. Era uma cena mostrando dentro de um ônibus, com as pessoas sentadas e rolando um quebra pau. Tinha, sei lá, oito páginas a história e isso é algo que eu tô querendo fazer, sabe? Uma câmera estática dentro de um ônibus e a galera brigando lá dentro (risos)”.
CONTINUA…
ANTERIORMENTE:
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #2: Baixo Centro, Flores e texto];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #1: origens, restrições e OuBaPo].