A Bienal de Quadrinhos de Curitiba 2018 terá início amanhã (6/9) e recomendo fortemente sua ida ao evento, no Museu Municipal de Arte da capital paranaense entre 5ª e domingo (9/9). Junto com o Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, trata-se da principal festividade de HQs do país. Não poderei estar presente por questões profissionais, mas insisto que você dê uma olhada na programação e tente dar um pulo no evento. Lembrando que a entrada será gratuita e a feira e as conversas do encontro contarão com a presença de grandes mestres e novos talentos das HQs brasileiras.
Eu bati um papo rápido por email com o tradutor, jornalista e crítico Érico Assis, cocurador da Bienal junto com Mitie Taketani, propietária da Itiban Comic Shop, uma das principais lojas de quadrinhos do país. Na conversa a seguir, ele comenta sobre o tema do evento (A Cidade em Quadrinhos), destaca a presença do lendário Julio Shimamoto, chama atenção para alguns pontos da programação e fala de suas expectativas para o próximos dias. Saca só:
Por que A Cidade Em Quadrinhos como tema da Bienal?
Por um lado, a organização do evento viu que a cidade é um tema recorrente em todo tipo de quadrinho. A gente tem Gotham City, Metrópolis, Patópolis, Palomar, Cidades Obscuras, Sin City, aldeias gaulesas, a Nova York do Eisner. Às vezes essas cidades são personagens das HQs, às vezes há cidades reais que inspiram obras. Quadrinistas brasileiros têm produzido muito material de destaque onde a cidade é um aspecto importante: Quintanilha com Salvador e Niterói, o D’Salete e os quilombos, Luli Penna e São Paulo, Ana Koehler e Porto Alegre, o Rafael Sica e as fachadas de qualquer cidade.
Por outro lado, Curitiba é uma cidade reconhecida internacionalmente pela arquitetura e pelo urbanismo. Vem gente do mundo inteiro estudar Curitiba como cidade que é. Quadrinistas locais, como o José Aguiar em Coisas de Adornar Paredes ou o Guilherme Caldas em Ditadura Abaixo e outros trabalhos, acabam representando Curitiba.
Por esses dois lados, parece um tema bem apropriado para um evento de quadrinhos específico desta cidade.
Quais são as suas principais expectativas em relação à Bienal?
Acho que é a mesma de qualquer evento: bastante público conversando sobre quadrinhos e com os quadrinistas, e também comprando quadrinhos desses mesmos quadrinistas. Teremos 120 mesas na Feira de Quadrinhos, com gente que traz publicações do país inteiro. Só percorrer este espaço, ver essa gente e escolher um quadrinho que agrada já tomaria uma semana – e você tem só quatro dias.
Além disso, temos 70 convidados que vão se espalhar pela nossa programação. Temos mesas para conversar sobre mercado, sobre mangá, para quadrinistas iniciantes, sabatinas com nossos convidados principais e, claro, sobre o tema do evento: cidade e quadrinhos.
Além da presença de grandes nomes dos quadrinhos nacionais, você destaca algum aspecto específico da programação?
Sem querer insistir nos grandes nomes, mas já insistindo, e também sem desmerecer todos os outros convidados, eu queria ressaltar a participação do Júlio Shimamoto. Shimamoto é um nome lendário no quadrinho brasileiro, pouco ou nunca participou de eventos e aceitou comparecer à Bienal por intermédio do Márcio Paixão Junior, seu colaborador no álbum Cidade de Sangue. Aliás, a proposta veio do Márcio. Shimamoto está com 79 anos, temos uma logística especial para recebê-lo e espero que quem comparecer possa reconhecer (ou conhecer) e homenagear o mestre. E que ele goste da experiência, claro.
Quanto ao restante da programação, eu tenho um orgulho umbiguista de ter convencido minha colega na curadoria, a Mitie Taketani, e os organizadores a deixar mesas com o tema “que horas o quadrinista acorda?”, “quando o quadrinista estuda?” e “o que o quadrinista tretou no twitter?”. Eu sou vidrado em conhecer o processo de trabalho, o cotidiano, e acho que este “eixo labuta” pode render papos importantes para quem quer fazer HQs, quem estuda HQs ou só curiosos como eu. Agradeço muito aos quadrinistas que toparam entrar nestas mesas, como Alexandre Lourenço, Fefê Torquato, Chiquinha, Cris Eiko e outros.
Na coletânea O Fabuloso Quadrinho Brasileiro de 2015 você teve uma experiência como curador e editor do álbum. É muito diferente essa experiência agora com a Bienal?
Bem diferente. No Fabuloso eu ajudei a selecionar trabalhos para compor um livro que devia representar uma época. Na Bienal ajudei a selecionar pessoas para compor um evento que tem que atrair mais pessoas, dentro de um tema de discussão.
A Bienal está sendo realizada no mesmo ano do FIQ. Em termos de produção independente e autoral, são dois eventos com propostas parecidas. No que você acha que os dois festivais se distinguem?
Um é em Curitiba, o outro é em Belo Horizonte. Acho que eles absorvem um pouco da identidade local, principalmente pela participação maciça dos quadrinistas locais. No mais, os dois são lugares para tomar cerveja com os quadrinistas.
Da Bienal de 2016 para essa atual aumentou ainda mais a crise econômica pela qual o país está passando. Quais foram os principais desafios de montar uma programação e fazer uma seleção de artistas convidados dentro desse contexto?
Fazer um evento igual ou parecido com o de outros anos, mas com menos grana: acho que está sendo o desafio de todo mundo. Do ponto de vista de curador, não pudemos convidar todos quadrinistas internacionais e nacionais que queríamos. Mesmo assim, acho que tivemos muita sorte nos aceites de convidados – e do pessoal que vem para a Feira -, que me parecem uma fatia expressiva do quadrinho brasileiro. Se brinca bastante que FIQ e Bienal de Curitiba são a Reunião Anual da Firma Quadrinho Nacional. Acho que este objetivo a gente vai cumprir.