Conversei durante três minutos ao vivo com Chris Ware. O nome pode não significar nada para você, mas não consigo imaginar nenhum artista vivo tão genial quanto ele. É gênio de verdade, não daquelas pessoas fodas que fazem coisas incríveis e classificamos dessa forma, mas alguém além da curva, completamente fora do padrão. Ele é o autor de Jimmy Corrigan, Lint e Building Stories, só pra ficar nos mais famosos. Fiz uma entrevista com ele por email no ano passado, transformei em matéria pra Galileu e publiquei a íntegra em inglês no Bleeding Cool. Sábado rolou aqui em Londres a terceira edição do Elcaf, o Festival de Quadrinhos e Arte do Leste de Londres. O Ware era o convidado especial do evento e também responsável pela arte do cartaz da festa.
Fui na primeira edição do Elcaf, em 2012. O evento é organizado pela Nobrow, talvez a principal editora de quadrinhos independentes da Inglaterra. O primeiro festival foi num galpão próximo à estação Old Street e o espaço estava claustrofóbico de tantos visitantes e artistas. Nessa terceira edição eles mudaram pra um espaço que permitia distribuir um pouco mais os expositores. Não era maior, mas melhorou a circulação de pessoas. Começou às 10h e cheguei por volta de 13h. Passei uma hora visitando as várias bancas expostas no local. Vi muita coisa legal que em breve pretendo comentar aqui no blog. A sessão de autógrafos de Chris Ware começou às 14h, no estande da Fantagraphics, editora responsável pelos títulos do quadrinista nos Estados Unidos.
A fila não estava das maiores, com no máximo umas 10 pessoas na minha frente. Passei uns 40 minutos esperando a minha vez, uns 20 devem ter sido por conta dos primeiros da fila, dois malucos que chegaram lá com malas e iam tirando quadrinhos e mais quadrinhos para o autor autografar. Isso não é raro, já tinha visto em outras convenções que visitei aqui em Londres, mas acho que os artistas não gostam muito. Provavelmente aquelas obras autografadas vão acabar em algum site de vendas e o cara vai lucrar bastante em cima da assinatura do autor. Depois um outro sujeito também chegou com 10 cartazes do evento pro Ware autografar. Ele estava bastante simpático, mas fechava um pouco a cara quando alguém chegava com muita coisa.
Na minha frente tinha um italiano com um óculos redondo bastante semelhante ao do quadrinista. Foi a primeira coisa que ele notou. “Muito bonita sua armação”. Aí ambos tiraram os óculos e ficaram comparando e conversando sobre as lentes e as estruturas de cada um.
Não queria comprar quadrinhos que já tenho apenas para ganhar um autógrafo. Comprei um pôster e também estava com o panfleto do festival. Cheguei com ambos na mão, coloquei na mesa e ele estendeu a mão para me cumprimentar com um sorriso no rosto. “Tudo bom? Qual é o seu nome?”. Me apresentei. “Ramon não é um nome britânico, certo?”. Disse que era do Brasil, falei que era jornalista e ele havia me dado uma entrevista por email no ano passado. Ele fez cara de surpreso e quis saber sobre o que eu havia perguntado. Comentei que a primeira pergunta havia sido sobre as 87 bilhões, 178 milhões, 291 mil e 200 possibilidades de leituras diferentes de Building Stories. Ele riu. “Claro que lembro das suas perguntas complicadas sobre a matemática de Building Stories, Ramon”. E continuou: “Eu gastei bastante tempo com as suas perguntas, não foram fáceis de responder”.
Enquanto assinava o meu cartaz, ele seguiu com a conversa. “Mas você não veio para Londres apenas para essa convenção, certo?”, expliquei que estava morando na cidade por um tempo. “Ok…caso contrário eu ia ter certeza que você é maluco”. Ele sorriu, me devolveu o pôster e um panfleto autografados do festival e agradeceu pela entrevista. Em seguida estendeu a mão e me cumprimentou outra vez. Assim foram meus três minutos com Chris Ware.
🙂