2ª (18/12) é dia de lançamento duplo em Curitiba: Alho-Poró, de Bianca Pinheiro, e Já Era, de Felipe Parucci

Segunda-feira (18/12) é dia de lançamento em Curitiba! A Itiban Comic Shop vai realizar uma sessão de autógrafos com o Felipe Parucci, autor de Já Era, e com a Bianca Pinheiro, responsável por Alho-Poró. Os dois títulos estão entre as minhas leituras preferidas desse final de 2017, ambos apoiados com muito gosto no Catarse. O evento rola a partir das 19h e ainda contará com um bate-papo com os autores mediado pelo João Varella, editor da Lote 42. Você confere outras informações sobre os lançamentos lá na página do evento no Facebook. Enquanto isso, reproduzo a íntegra das minhas entrevistas com os autores para a matéria que escrevi os trabalhos dos dois pro UOL:

“Acho bizarro como o consumismo evolui hoje em dia, principalmente nas artes”

Você lembra do instante em que teve a ideia de criar Já Era? Qual é a origem da história?

Felipe Parucci: O JÁ ERA tem uma origem curiosa. Quando eu tava finalizando o Apocalipse, Por Favor já estava começando a trabalhar em algumas ideias pra um próximo projeto grande. Ideias totalmente diferentes do que eu trabalhei no JÁ ERA. Acontece que numa noite, conversando com a namorada por telefone antes de dormir (ela mora em Curitiba e eu em Floripa), ela me pediu pra contar uma história, pra estimular o sono. Na hora não me lembrava de nenhuma, então resolvi inventar qualquer coisa, no freestyle. A história que eu inventei ali na hora virou o JÁ ERA.

O Apocalipse, Por Favor foi bancado pelo Catarse, o Auto Ajuda foi 100% independente e o Já Era foi bancado pelo Catarse e tá saindo por uma editora. Como você distingue cada uma dessas experiências? Você pode falar um pouco o que aprendeu/tá aprendendo com cada uma delas?

Felipe Parucci: A ideia de ser independente é muito bonita e acho que combina muito com o que eu faço, com o que eu falo. Mas com o Apocalipse, Por Favor saindo, percebi que o autor independente precisa se preocupar com muito mais coisa além de simplesmente fazer quadrinhos. A gente tem que vender livros, vender a nossa imagem, divulgar, distribuir, cobrar, passar nota fiscal, cadastrar o isbn, fechar arquivo, orçar, estocar… É muito difícil manter uma produção frequente com tanta atividade que envolve lançar um livro. Não é à toa que ainda tenho algumas caixas mofando no meu apartamento.

A publicação do Auto-Ajuda já foi bem mais tranquila. É um gibi pequeno, não ocupa muito espaço no apê. Fiz só 500 cópias, então foi bem barato de produzir e não fiz muito esforço pra divulgar ou distribuir. Tem muita gente que nem sabe que ele existe hehehe Pretendo continuar fazendo publicações assim pra intercalar com os projetos grandes. É legal pra dar de presente pros amigos.

Encontrar uma editora pro JÁ ERA aos poucos foi entrando nos meus planos. Acabei optando pelo financiamento coletivo porque o projeto era muito grande, e precisava financiar a produção desde a origem e não só a impressão do livro. Fiquei feliz de encontrar a Lote 42, que tem um ideal bem parecido com o meu em relação às publicações. A gente faz isso porque gosta e nada além disso.

O Já Era é uma crítica enfática ao consumismo e a toda vacuidade de uma cultura formatada a partir de imagem e comércio. Há um universo geek crescente muito firmado em cima de colecionismo e ostentação. É importante pra você propor as reflexões do Já Era pra esse público leitor de quadrinhos?

Felipe Parucci: Eu acho importante propor essa reflexão pra todo mundo! Acho bizarro como o consumismo evolui hoje em dia, principalmente nas artes (não só nos quadrinhos, mas na música, no cinema, etc.). Tudo que faz sucesso me parece mega padronizado, e o artista que tenta fugir do padrão normalmente morre pobre ou é descoberto por um mega empresário que transforma seu trabalho numa nova tendência que vai virar padrão. É um ciclo vicioso que cresce como uma bola de neve! O público geek vai na mesma onda, mas é complicado culpar o público. Se eles estão felizes e curtindo, a única coisa que me resta é escrever um livro que critica tudo isso e torcer pra que eles leiam…

Você tem sido presença constante em eventos de quadrinhos nos últimos anos. Dessa sua experiência, o que você vê de mais interessante na cena brasileira de HQs?

Felipe Parucci: Eu tento participar do máximo que eu posso. Infelizmente só consigo ir nos que estão mais próximos (fico mais entre SC, PR e SP). Mas me considero meio novato, o primeiro que participei foi em 2014 (a Gibicon em Curitiba, agora Bienal de Quadrinhos). Acho que todo mundo que frequenta eventos há mais de dois anos percebe que a quantidade e qualidade das produções tá crescendo exponencialmente. Tem muita coisa boa sendo produzida e não é à toa que abriram uma categoria do Prêmio Jabuti só pra premiar quadrinhos. Essa evolução é notória, acho que até pra quem é de fora desse meio. Só fico na dúvida se o público também cresce com o mesmo fermento. Às vezes me parece que as pessoas que consomem os quadrinhos são as mesmas que fazem. Tá faltando alguém pra avisar as pessoas que o quadrinho tá aí pra todo mundo. Assim como o cinema, a música, o teatro, a literatura, o quadrinho tem um gênero pra você. Vai lá comprar um, vai!

“É necessário desenvolver no nosso público a vontade de ir atrás do que gosta sem exigir a presença física do autor”

Você pode me falar um pouco sobre a origem do projeto? Você lembra do instante em que teve a ideia de criar a HQ?

Bianca Pinheiro: Claro! A ideia surgiu quando a gente voltava do almoço um dia (eu, Greg Bert, Alexandre Lourenço e Yoshi Itice) e os meninos estavam falando sobre briga de moleque na época de escola, sobre como era e tudo o mais… E eu pensei, “caramba, as meninas não eram muito de sair no soco na minha escola” e comecei a desenvolver a ideia pra história a partir daí. Mas não vou contar muito mais pra não dar spoilers, hahaha!

Você é muito elogiada pela versatilidade do seu trabalho, pela variedade de estilos, gêneros e traços com os quais trabalha. No Alho-Poró você utilizou alguma técnica distinta de seus trabalhos prévios? Você se propôs a fazer algo diferente do que havia feita em suas obras anteriores?

Bianca Pinheiro: Sim! Eu fiz duas coisas que nunca havia feito antes, neste projeto. Primeiro foi que desenhei todas as páginas a lápis. Eu antes só havia usado grafite como esboço, finalizando no nanquim ou desenhando tudo direto no computador. Essa foi a primeira vez que decidi arte-finalizar com lápis. E foi muito legal! Não só porque o lápis é gostoso de trabalhar como porque ele faz aquele “risc, risc” no papel. É um barulhinho muito maneiro.

Outra coisa que fiz foi tentar fazer uma HQ que tivesse como parte principal (ou co-principal) um diálogo. Tem uma cena muito longa de duas personagens só conversando, sem mostrar flashback nem nada. E foi bem desafiador, uma vez que não me sinto totalmente segura ainda com a minha escrita. Tive bastante ajuda dos amigos (e principalmente do Greg) nessa parte. Espero que tenha ficado bom!

Você já publicou de forma independente, por editora e via catarse. Como você distingue cada uma dessas experiências? Você pode falar um pouco o que aprendeu/tá aprendendo com cada uma delas?

Bianca Pinheiro: Vixi! Esse papo é longo! Especialmente porque nenhuma das experiências foi igual à anterior. Trabalhei com três editoras, uma bem diferente da outra, fiz dois projetos de Catarse, ambos bem diferentes, e um livro independente… Tudo isso numa tentativa de encontrar a melhor forma de produzir, imprimir e distribuir quadrinhos. Além da ideia louca de se fazer algum dinheiro com eles hehehe. E o que eu aprendi até agora é que tá todo mundo aprendendo. Como o cenário de quadrinhos no Brasil é ainda muito pequeno, meio que ninguém sabe com certeza como as coisas devem (ou deveriam) funcionar. Aplicar o modelo americano ou o europeu ou o japonês de se fazer quadrinhos no Brasil me parece um tiro no pé. Porque a gente se comporta de maneira diferente e vem se criando um público de quadrinhos diferente.

Então, em resumo, o que me parece é que todo mundo (editores, artistas, jornalistas e amantes de quadrinhos) tem opiniões fortes a respeito do que seria o melhor para o quadrinho no Brasil. Mas me parece também que ninguém pode afirmar quase nada com certeza porque nosso cenário ainda não está devidamente estabelecido e somos pequenos demais para fazer alguma mudança significativa nesse país enorme em que vivemos. Então a gente vive assim, tentando e tropeçando aqui e ali, vendo o que dá certo (ou o quão certo é possível) para cada um.

Você tem sido presença constante em eventos de quadrinhos nos últimos anos. Dessa sua experiência, o que você vê de mais interessante na cena brasileira de HQs?

Bianca Pinheiro: Vejo uma grande variedade de temas, estilos e ideias. O Brasil é muito rico e isso é lindo! Não acho que a gente consiga enquadrar o “jeito brasileiro de fazer quadrinhos”. Tem estilo pra todo gosto e tem até brasileiro fazendo mangá e quadrinho de super-herói.

Mas o que a gente tá se tornando é escravo de eventos, e isso me preocupa. se isso se estabelecer completamente e o público passar a só comprar quadrinhos brasileiros que encontrarem em eventos, nós teremos uma cena ainda mais alienada, uma cena que não se sustenta direito porque o artista tem que ir até o público fisicamente. É necessário desenvolver no nosso público a vontade de ir atrás do que gosta sem exigir a presença física do autor. Senão acabaremos numa relação esquisita e complicada que corre risco de prender ainda mais o nosso minúsculo cenário e isolá-lo do resto do mundo.


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