Queria ter mais tempo pra escrever sobre tudo que andei pensando em relação ao resultado do Grampo. A planilha com os votos de cada um dos 20 eleitores dá um tremendo panorama do que foi o ano de 2015 para os quadrinhos brasileiros – dentre MUITOS panoramas possíveis, diga-se de passagem. Foram 32 editoras mencionadas, 20 obras independentes citadas dentre 81 títulos no total e cerca de 90 autores – as coletâneas atrapalham um pouco nessa contagem. Gostei do resultado final. Das dez primeiras colocações, a única com a qual fico um pouco incomodado de ver por lá é O Escultor do Scott McCloud. Já reli duas vezes e, por melhor que seja, ainda é uma obra imatura, com roteiro e personagens bastante rasos, principalmente por ter vindo de quem veio.
Das minhas três primeiras colocações (1-Talco de Vidro, 2-A Propriedade e 3-Lavagem) consta apenas a obra de Marcello Quintanilha no top 3 geral. Ainda assim, fiquei bastante feliz de ver os trabalhos de Pedro Cobiaco e L.M. Melite ocupando o pódio final. Fiz duas longas entrevista com Cobiaco ao longo do ano passado (aqui e aqui) e uma imensa com Melite. Enquanto Quintanilha não precisa mais de qualquer aval ou aclamação pública para sacramentar a qualidade de seu trabalho, o autor da Ilha ainda é um artista novo, em formação, e o responsável por Dupin está longe de ter recebido seu devido reconhecimento. Fiquei realmente feliz por ter terminado dessa maneira.
Claro, por mais interessante e legítimo que seja o sistema de votação escolhido, ele permite algumas falhas. Fazer um top 10 em formato de ranking é injusto pra caramba. Se fossem os 15 primeiros, gosto de acreditar que títulos extremamente queridos do ano passado teriam ainda mais destaque (O Beijo Adolescente #3, os trabalhos da Nébula, Espiga, Quiral, Mayo, Dodô, Dinâmica de Bruto e acho melhor parar por aqui ou então não termino nunca hehe). Fossem as 20 então, certeza que o resultado seria completamente diferente, e por aí vai.
A ideia do Grampo – não com esse nome, que só veio já nos finalmentes da votação – tava na minha cabeça tinha um tempo, mas quieta lá num canto. Numa das minhas primeiras conversas com o Lielson, acho que no final de 2014, já havíamos brincado sobre a possibilidade de fazer algo do tipo. No final do ano passado, inspirado pela saudosa eleição de melhores do Gibizada do Telio Navega, o Lielson voltou a cantar essa bola. Fiquei meio reticente, sei que uma eleição do tipo exige responsabilidade e compromisso pra caramba. Por mais informal que possa parecer, não deixa de ser a avaliação do trabalho de alguém, de uma obra que uma pessoa investiu tempo e esforço pra colocar no papel – ou na internet. Resolvemos fazer, a coisa rolou e ficou legal pra caramba. Sem qualquer falsa modéstia: acho o resultado mais interessante de qualquer ranking/lista/eleição de melhores quadrinhos de 2015 que vi por aí e um dos mais bem fundamentados dos meus muitos anos como leitor de HQs. Espero que inspire novas ideias e dê novo fôlego a novas e velhas premiações dos quadrinhos nacionais.
Se tudo der certo, caso sobre tempo e vocês ainda queiram, o Grampo volta em 2017.
Até.