O quadrinista Felipe Nunes colocou no ar no Catarse a campanha de financiamento de seu novo quadrinho. Batizado de Clean Break, o projeto é o primeiro do autor em seguida aos sucessos Klaus, Dodô e O Segredo da Floresta. Desenhado com o preto e branco de alto contraste já característico de Nunes e com personagens antropomorfizados, o quadrinho é protagonizado pelos agentes do Departamento de Causas Vulgares da Cidade Velha, Alberico DeLucca e Silas Cástan, com o auxílio da jovem recruta Tarsila Kopf. O trio investiga um crime em um mundo no qual o açúcar foi proibido e a população vive a ditadura de um estilo de vida inflexivelmente saudável.
Eu já li uma primeira parte do álbum e acho muito promissor o universo que Nunes está construindo. Clean Break rompe com as tramas primariamente infantis dos três trabalhos prévios do autor e explicita a vontade dele em investir em outros temas, gêneros e estilos. A partir de hoje dou início a uma série de posts nos quais Nunes fala um pouco sobre as origens, as inspirações e o desenvolvimento da HQ. A seguir, Felipe Nunes:
Clean Break passado a limpo #1: Felipe Nunes e as origens de sua nova HQ
“Não me lembro exatamente em que momento da minha carreira eu decidi contar o tipo de história que vinha fazendo e que me colocou numa luz maior (Klaus e Dodô), mas por um tempo eu acreditei firmemente naquilo. Conseguia ver a maneira de fazer meu trabalho, os objetivos que buscava ali e me sentia confortável coordenando histórias de aparência inocente que tratassem de temas sérios – e tentando não ser tão didáticas quanto a maioria das coisas que via no gênero”.
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“Entre o fim do Dodô e o término de O Segredo da Floresta, tive um limbo de quase um ano sem escrever nada e foi onde passei pelas maiores mudanças da minha vida. Ali, construí parâmetros por inúmeras situações e ciclos que me fizeram mudar profundamente como pessoa, e naturalmente senti que começava a ver um cenário possível pra tentar arriscar outros tipos de história que gostava e consumia muito no cinema e na literatura, mas achava que nunca poderia contar (principalmente sci-fi, noir e suspense psicológico)”.
“Já tinha tido uma outra idéia (mencionada na entrevista pro Quadrinhos pra Barbados) que flertava com um romance adulto com crimes e cheguei a escrever 150 páginas e fazer mais de 70 em thumbnails, ou seja, um gibi pronto que nunca acabei – mas ali senti que conseguiria trabalhar em função da LINGUAGEM, e não dos meus gostos – ou seja, me desdobrar com narrativa, composição, design de personagem e o que fosse pra conseguir desenhar e contar o tipo de história que quisesse) e essa idéia era bem semelhante em núcleos, mas comecei a flertar com distopias e acabei chegando nessa conclusão – eu queria contar uma história policial, de investigação, eu tinha um bom cenário pra trabalhar isso (discutir política de drogas, higienização e controle social num contexto 2018) e tempo. Pela primeira vez senti que deveria dar mais espaço do que imaginava pra trama e cheguei em 200 páginas. Mas tudo mudou nessa história – sinto que pouca coisa se aproxima do outro Felipe, sintético, direto e objetivo em construir sentimento. Nessa história as coisas estão mais soltas, dispersas no ar, e me preocupo mais em criar essa caixa de percepção do que apontar o dedo pras coisas. Espero que funcione”.