Entrevistei a quadrinista norte-americana Emil Ferris para escrever sobre Minha Coisa Favorita é Monstro – Livro Dois (Companhia das Letras) para o jornal Folha de S.Paulo. Você lê a minha reportagem sobre o livro clicando aqui. Com tradução de Érico Assis, o álbum de 424 páginas é a continuação de Minha Coisa Favorita é Monstro – Livro Um, lançado originalmente em 2017. Apesar de ainda recentes, os dois títulos já podem ser listados entre as maiores histórias em quadrinhos de todos os tempos.
No meu texto para a Folha me aprofundei sobre as técnicas e os métodos de Ferris, falei sobre os sete anos de produção do segundo livro e apresentei um pouco da leitura de mundo da autora. Não deixa de ser uma sequência da reportagem que escrevi para a mesma Folha, em 2019, quando o primeiro livro de Ferris saiu no Brasil, e à entrevista que fiz com a artista na época. Publico mais abaixo a íntegra da minha conversa mais recente com a quadrinista, feita por vídeo, no início do último mês de outubro.
O primeiro Minha Coisa Favorita é Monstro ganhou três troféus do Prêmio Eisner (melhor álbum, melhor escritora/artista e melhor colorista), a premiação máxima da indústria de quadrinhos dos Estados Unidos, e também o Fauve D’Or 2019, prêmio do tradicional Festival de Angoulême, na França. Sua continuação, Minha Coisa Favorita é Monstro – Livro Dois, é um dos títulos mais importantes publicados no Brasil em 2024.
Na nossa conversa mais recente, Ferris me falou sobre sua infância, celebrou a presença de arte e artistas em sua vida, contou sobre o futuro de sua protagonista Karen Reyes e adiantou um pouco sobre seu próximo livro. Papo muito bom, saca só:
“Artistas me ajudaram a descobrir como sobreviver no mundo”
De onde você está falando?
Agora eu estou morando em Milwaukee, a apenas uma hora e meia de Chicago. Tenho um estúdio, é lindo. Você não consegue ver pela câmera, mas agora tenho um espaço que ocupa todo um estúdio e é ótimo. É muito legal. É muito mais barato que Chicago. E é muito legal. As pessoas são muito legais. Eu amo muito. Sinto uma certa falta de Chicago, mas não poderia ter uma galeria por lá. Agora tenho uma galeria, um estúdio e um apartamento e tudo isso por cerca de metade do que pagaria em Chicago. Então, é isso, tive que fazer uma escolha.
Eu moro em Juiz de Fora, uma cidade próxima do Rio de Janeiro. É bem mais barata que o Rio de Janeiro ou São Paulo. Sinto falta das possibilidades de uma cidade maior, mas a vida é bem mais simples.
É exatamente a mesma coisa por aqui. É muito mais simples. E as preocupações da vida… Eu posso focar mais no meu trabalho e viver com menos. Tenho que trabalhar menos para poder viver, o que eu tenho certeza que você entende, porque eu sei que São Paulo é uma das cidades mais caras e, você sabe, apenas inviável.
Acho que as obras de arte que mais me tocaram são aquelas que resultaram em experiências transformadoras. Fico curioso, como autora, o quanto Minha Coisa Favorita é Monstro transformou quem você é? Você acha que mudou muito durante a criação desses dois livros?
Wow! Uma ótima pergunta. Acho mesmo. Acho que é A PERGUNTA e, honestamente, não posso dizer que pensei para valer a respeito disso. Mas, sabe, acho que a verdade é que eu sabia… Eu sabia que queria alcançar as pessoas com esses livros, mas não fazia ideia do quanto essa experiência seria transformadora para mim. E, você vai entender o que quero dizer, como escritor, você apresenta as coisas para o mundo e nem sempre é reconhecido. Porque você não é uma Kardashian. Entende o que eu quero dizer? As pessoas não vão te reconhecer na rua e não vão lá falar com você – bem, talvez isso aconteça com você. Acontece um pouco comigo na França, lá sim, mas no resto do mundo eu apenas sigo com a vida. Sou só uma velha e está tudo bem. Mas você não compreende nada disso até ir a um evento e as pessoas falarem, “ah, você vai estar lá!”. E aí as pessoas vão lá e dizem como o livro foi impactante para elas. Isso é inusitado. É um pouco desconcertante. Faz você coçar a cabeça. Ok, você fica feliz, é algo maravilhoso. E, às vezes, você pensa… Eu olho para certos temas que acho que o livro trouxe à discussão, à discussão humana da época – e eu não sei se vieram do livro ou não -, mas eu vejo que esses tópicos são parte da discussão e fico pensando, “será?”. Isso mexeu comigo. Porque eu não imaginava que poderia acontecer.
Eu vivi toda a minha vida… Se eu gritasse bem alto na rua, alguém ia me ouvir, mas eu não tinha ideia de que faria algo na minha vida que teria tanto impacto. Eu simplesmente não fazia ideia. Estou feliz, sou grata, mas fiquei surpresa com isso. Sendo honesta, ainda fico surpresa quando vou a eventos. É uma experiência maravilhosa.
As pessoas perguntam, “por que o segundo livro demorou tanto?”. Bem, quando você compreende que tem tanta responsabilidade… Porque as pessoas vão ler e vai importar para elas. Vai afetá-las. Então não se trata mais de algo pequeno, não é apenas “aqui está o meu quadrinho” – não estou dizendo que isso é coisa pequena, pode ser muito grande, mas você reconhece o poder que tem como pensador, como artista, e precisa compreender o significado disso. É como quando um cavaleiro se ajoelha diante do rei e a espada vai [bate nos ombros e na cabeça]. É como se você tivesse sido nomeado cavaleiro, trazendo algo de valor e você não pode decepcionar. Você tem que tentar o seu melhor para entregar o que prometeu.
“Nosso poder humano está na nossa criatividade”
Não me lembro em qual dos livros, mas a Karen descreve arte como uma proteção. O quanto a arte já te protegeu?
Sempre. A arte sempre foi… Posso contar uma historinha engraçada que meio que explica isso. Então, eu era mais nova e estava no L, o metrô de Chicago, e estava desenhando. Eu estava desenhando as pessoas, desenhando discretamente, sem que elas percebessem que eu estava desenhando. Tipo, eu olhava para o teto, olhava ao redor, depois olhava para elas e desenhava um pouquinho. “Não estou olhando para você, não estou fazendo isso, não, de jeito nenhum”. Mas eu obviamente estava, certo? Bem, uma dessas pessoas viu o que eu estava fazendo, ele viu que eu estava desenhando. E ele veio me dizer, “eu não deveria estar aqui”. Ele queria dizer que estava em liberdade condicional, eu entendi, ele não deveria estar ali. Depois ele falou, “você está me desenhando, eu não gosto disso”. E ele foi ameaçador, muito ameaçador. Mas acho que posso dizer que, caso o desenho fosse ruim, eu teria tido problema, mas ele estava lindo, era um bom desenho. Aí eu o arranquei do caderno e disse, “sem problemas, é seu”. Aí ele pegou da minha mão e disse, “eu gostei disso, isso é bom”. Então, “vou viver mais um dia”. Ele não me parecia ser uma figura pequena no mundo do crime. Tipo, ele era alguém importante no mundo do crime, pelo menos me pareceu ser. Em algum lugar, em um labirinto vilanesco do submundo, tem uma parede com o meu desenho dele enquadrado. Tenho essa suspeita. E ainda tenho a minha vida, está tudo bem. Tenho a impressão que a arte já me protegeu muitas vezes. Talvez essa só tenha sido a mais óbvia. Mas não foi a única.
Quando eu era mais nova, a escola era incrivelmente hostil e chata. Nós tínhamos um trabalho em Chicago… As escolas fundamentais mais pobres tinham um trabalho, nós fazíamos os broches do Prefeito [Richard Joseph] Daley. Ele foi o grande chefe político de Chicago da época da máfia. Nós tínhamos que nos sentar em nossas carteiras e pegar essas agulhas longas e encaixá-las e então empurrá-las. Teve uma criança que caiu e furou a orelha nessa coisa. Era muito perigoso e eu não gostava nada de fazer isso, porque você sempre machucava os dedos. Então eu fui tirada desse trabalho. Me tiraram porque eu era boa em desenhar as artes nos corredores da escola. E então, na maior parte do tempo, eu não estava em sala de aula, eu estava nos corredores fazendo esses grandes murais, com flores e insetos e outras coisas. E isso fazia a escola parecer muito colorida, como se as crianças estivessem felizes, e elas estavam, mas… Eu estava fazendo propaganda para o cara. Mas tudo bem, isso provavelmente me salvou de machucar minhas mãos nessas coisas. Então, sim, a arte me protegeu o tempo todo.
Os seus dois livros são não apenas sobre a Karen tentando entender o que aconteceu com Anka, mas também sobre a Karen tentando compreender quem ela é. E nós, os leitores, estamos nessa jornada com ela. O quanto a arte te ajudou a compreender quem você é?
Ah, ela foi tudo. Foi tudo. E também outros artistas, artistas famosos, que viveram antes de mim. Eles me ajudaram a descobrir como sobreviver no mundo. Sem eles, não sei se eu poderia ter continuado. Houve tantos artistas que me deram esperança e me ajudaram a imaginar um mundo onde, talvez, eu pudesse ter um lugar. Porque, você sabe, a trajetória dos monstros nem sempre é segura, assim como a trajetória dos artistas nem sempre é segura. Então esses poucos momentos em que eu pude ver isso, na beleza de Gauguin e Van Gogh e Frida Kahlo e Diego Rivera e Goya… As coisas bonitas que eles deixaram para trás, as muitas coisas bonitas que eles deixaram para trás, são uma prova de seu sucesso em apenas sobreviver ao mundo e seguir vendo sua beleza, são um presente de suas existências. E é isso que eu queria, é o que a Karen quer. E acho que é o que a maioria de nós quer: encontrar alguma maneira de nos mantermos por aqui. É difícil estar aqui, não é fácil.
Estou pensando aqui na repercussão imensa do primeiro livro. Como você disse, ele representou muita coisa para muita gente. O quanto da história você já tinha em mente quando começou a fazê-lo? Você já sabia como seria o final? O quanto essa história mudou?
Está sempre mudando, está sempre mudando porque… O livro, qualquer coisa que seja escrita, meio que existe em um ambiente eterno e eu sou apenas o canal receptivo da Karen. Às vezes ela fala comigo por semanas e eu não a escuto, até que me vejo em alguma posição em que desperta algo em mim e compreendo do que se trata. Não é que ela não está me dizendo, é porque eu não estou ouvindo bem o suficiente, não estou com o canal aberto para ela. Mas ela está lá o tempo todo, CoM a SuA vOzInHa, falando comigo sobre o que quiser falar. Às vezes é difícil escutá-la ou ter uma ideia, aí ela me diz, “não foi o que eu estava pensando”. Aí ela me explica. Tive essa experiência recentemente, porque estou finalizando um livro para a Pantheon, chamado Records, e ela me explicou muitas vezes do que se trata o livro. Mas eu não a escutei. Então eu finalmente a ouvi e entendi tudo.
Eu queria saber mais sobre a sua relação com as suas técnicas. Muito foi falado sobre a forma como você desenha e os materiais que você usa. Passar tanto tempo fazendo a mesma coisa do mesmo jeito… Não sou artista, então ficou curioso: você se cansou em algum momento? Você pensou em mudar alguma coisa durante a criação do livro?
Ah, bem… Às vezes você apenas desenha o mesmo personagem tantas vezes e acaba pensando, “ótimo, preciso desenhar o Deeze pela milésima vez”. Aí você se lembra que isso importa para alguém, para o público, para o leitor, ele precisa da melhor versão do personagem para se comunicar da melhor forma possível com a história. E você é responsável por isso. Então você vai lá e faz. É como quando você é um pai precisando alimentar seu filho três ou quatro vezes por dia e a criança nem agradece. A criança só diz, “eu estou crescendo”. Na verdade elas nem falam isso, mas você entendeu. Elas estão crescendo e você é o responsável por isso, mesmo que já tenha feito a mesma coisa mil vezes. Não importa, você tem a responsabilidade de seguir fazendo isso. E quando você está construindo um livro, é a mesma coisa, você está alimentando o público, o leitor. E mesmo que eles só venham a comer o que você está fazendo daqui um ano, é importante que você cozinhe essa refeição o melhor possível. Eu só fui a idiota que escolheu uma caneta [mostra uma Bic azul na mão]. Uma canetinha para desenhar 400 páginas. A culpa não é do leitor. Foi idiotice minha pensar que seria simples. Não é nada simples. Essa canetinha suja a página. São necessárias milhares delas para desenhar só um olho, só um detalhe de uma página. É maluquice, é insano, Ramon. É a coisa mais estúpida do mundo. Você não faz ideia.
Quantas canetas você usou fazendo esses dois livros?
Você poderia construir uma casa pequena com aquelas que já joguei fora. Eu deveria tê-las guardado. Eu deveria tê-las colocado em um depósito e construído essa casinha com elas, para que as pessoas pudessem entender o que vivi. Eu meio que gostaria que a Bic começasse a me mandar canetas e desse atenção para o meu trabalho. Eles são uma empresa francesa. Eu gostaria de verdade que eles começassem a me mandar canetas, porque ajudaria muito. Estou olhando para várias caixas de caneta. Tenho provavelmente… [contando] 10 mil, 20 mil, 30 mil canetas. Só esperando. Só esperando. E vou usar todas elas, rapidamente.
“Se não é amor, é uma ilusão”
A Karen parece estar muito mais consciente do mundo nesse segundo livro. Ela me parece compreender que é um mundo de esperanças, raiva, otimismo, pessimismo,… Todos esses sentimentos e ideias conflitantes. E o livro é ambientado em uma época na qual as coisas pareciam estar caminhando para um futuro melhor. Hoje há mais guerras, preconceito e toda uma movimentação da extrema direita. Você acha que acabamos regredindo?
Bem, realmente, parecia que estávamos nos conscientizando uns dos outros nos anos 1970. Havia principalmente uma postura de responsabilidade que as pessoas estavam sentindo umas pelas outras, por suas comunidades, por seus estados e suas nações, pelo meio ambiente e era tudo muito sincero. Eu não sinto a mesma coisa no presente, parece que muito disso foi cooptado por forças que não estão realmente alinhadas com os nossos melhores interesses. Não acho que ninguém me impediria de dizer que é muito improvável que a maioria das grandes corporações estão realmente preocupadas com a humanidade. E não parece que estão porque as escolhas que fazem, os produtos que elas nos fornecem e as coisas que nos recomendam não nos parecem tão benéficas à nossa saúde, ao nosso bem-estar e ao fortalecimento das nossas comunidades, como gostaríamos. Então, o que aconteceu?
Bom, eu acho que a coisa mais importante para o indivíduo é lembrar do seu poder – e isso não diz respeito a práticas violentas. Nosso poder humano está na nossa criatividade, na nossa habilidade de criar nossos filhos e criar nosso mundo, em cultivar essas práticas. Pintar um quadro, fazer uma dança, ensinar as crianças da vizinhança a fazer algo importante. Isso ainda é importante, ainda é real. Porque o problema, eu acho, é que nos vendem uma história de que somos maus. Mas é mentira, não somos maus. Eu não inventei os pesticidas, você não inventou. Essas não são coisas boas, mas as pessoas que as inventaram e as vendem para nós, nos dizem que precisamos usá-las em nossas plantações, bem… Nós não somos essas pessoas. Eu e você não somos, é outro grupo de pessoas, que, talvez, apenas não se importe tanto conosco, não se importa tanto com a saúde de nossos filhos. Isso pode mudar? Com certeza.
Acho que estamos chegando à conclusão (e talvez esse seja o verdadeiro fruto dos anos 1960 e 1970) que, mais do que nunca, não apenas fazemos parte de uma tribo, nós somos indivíduos. Farei uma escolha por mim, na minha consciência, sobre o que é certo. Não farei essa escolha por causa de alguém, por causa de ameaças dos meus superiores. Vou fazer essa escolha em acordo com a minha bússola moral. O que ela me diz? Porque é tudo pelo que tenho que ser responsável.
Também há a beleza dessa escolha me mostrar que não posso mudar tudo.
Ao mesmo tempo, posso garantir que a mulher na rua que encontro com um ferimento na cabeça pode ser amparada pelos meus braços até que a ambulância chegue. Posso garantir que quando encontro pessoas, não vou agir como se elas não importassem, porque elas importam, porque são parte de mim, são parte do meu mundo, são parte de nós. Você sabe, estamos todos conectados. Posso reconhecer as pessoas quando elas vêm a um evento. Há o que eu possa fazer. Não posso mudar tudo, mas posso amar. Posso amar tudo que entra no meu caminho da melhor maneira possível. Posso ser sincera, todos nós podemos. E se todos nós fizermos isso… A grande maioria de nós é bem-intencionada. A grande maioria de nós não são as pessoas que constroem as bombas. Não somos. Não somos as pessoas que jogam as bombas em outras pessoas. A grande maioria de nós são as pessoas que vivem sob ameaças, pessoas que criam os próprios filhos, pensam sobre seus pais envelhecendo e sobre o colega de trabalho que parece deprimido. Nos importamos uns pelo outros. A maior parte das pessoas se importa. E nós não podemos esquecer disso e precisamos sempre lembrar do nosso poder.
É uma pergunta meio óbvia depois disso tudo que você falou, mas você se considera otimista, certo? Como você disse, nós não construímos as bombas, mas elas seguem caindo e as pessoas seguem sendo assassinadas. Então, como manter esse otimismo?
Bem, uma amiga que acabou de passar por um câncer e passou por muitas coisas terríveis na vida, me disse – e tenho certeza de que se trata de uma citação de outro pensador, mas eu gostei, não tenho certeza de quem disse originalmente, mas parece algo para a eternidade: “O amor é realidade e todo o resto é uma ilusão”. Todo o resto. Se não é amor, é uma ilusão. E acho que estamos vivendo com muitas ilusões manifestas. Quero dizer que elas não existem? Não estou dizendo que uma ilusão não existe. Estou dizendo que é uma criação de algo diferente do amor. Se é destrutivo, não é uma criação do amor. Não tem poder? Claro que tem, olhe para todas as ilusões que motivaram os maiores crimes da humanidade.
A ilusão é que a outra pessoa não é tão importante quanto eu, que os filhos dela não importam tanto quanto os meus. Isso é mentira, engano e ilusão. Isso não é amor. Não é verdade. A verdade é – e é por isso que a arte é tão importante: você lê um livro, ouve música, assiste a uma dança, vê pinturas e começa a entender o que outra pessoa sentiu e isso é uma ressonância com outro ser humano. Isso tira você de si mesmo, faz você reverberar em outra vida e isso se chama empatia. E isso é lindo e perfeito e bom e significativo e PODEROSO. E temos que ter muito mais disso.
E eu acho que é por isso que adoraria ver as pessoas, jovens criativos, você sabe, tipo, saindo de… [pega um espelho pequeno na mão como se fosse um telefone] Isso aqui não é um celular, isso é um espelho, mas a verdade é que é exatamente isso que um celular é (risos). “Vamos sair disso! Vamos deixar isso aqui para lá e vamos encarar o fato de que somos imbuídos de grande força criativa e de grandes poderes criativos”. Vamos terminar as coisas.
O Neil Gaiman disse algo ótimo, ele falou: “termine o que começou”. É verdade. Termine as coisas. Você começou um livro, ele importa, vá com ele até o fim. Você começou uma pintura que está pendurada na parede (tenho uma assim por aqui, sou tão culpada quanto qualquer um), então a termine. Termine. Termine o que começou. Também é o meu conselho. Eu diria que isso importa. Se eu tenho uma tribo, é a dos artistas. E como pessoa criativa, gostaria que começássemos a chutar umas bundas. Quer dizer, espiritualmente, não de forma violenta, para valer. A bunda que quero chutar é a da falta de empatia, sabe? Nós a chutamos criando empatia, criando histórias, criando arte, com música, exalando beleza. Sem parar e sem desistir.
“O futuro da Karen é uma loucura”
Sobre “terminar as coisas”, fico curioso em relação ao seu sentimento quando o segundo livro chegou às suas mãos. Depois de tanto tempo, o que você sentiu? Diz mais respeito a realização ou houve alguma forma de vazio por causa do encerramento da história?
Minha Coisa Favorita É Monstro terminou, mas a história da Karen não chegou ao fim. Há mais por aí. Então, você sabe, de certa forma, o único sentimento foi que eu queria fazer mais. E aí, você sabe, estou trabalhando em outra agora, mas foi esse o sentimento.
Ramon, qual é o seu signo? Estou curiosa.
Sou Gêmeos.
Ah, comunicação.
Sim, conheço vários jornalistas que são Gêmeos.
Sim, diz respeito à comunicação. Isso é legal. Você conhece o seu signo no horóscopo chinês?
Não sei. Nasci em 17 de junho.
De qual ano?
1986.
Você precisa conferir 1986. Vamos descobrir. Ainda temos tempo? Estou curiosa.
Por que você quer saber dos meus signos?
Porque esse tipo de coisa faz diferença. Tipo, quem é você? Eu amo descobrir.
Não sou muito de signos, mas a minha companheira é e estou aberto às possibilidades.
Sim! Nós compartilhamos algo: você é um tigre. E eu sou um tigre também.
O que isso significa?
Fala sério, Ramon. Você sabe o que significa. Um tigre. Nós somos encrenca, mas encrenca boa. Nós somos corajosos, talvez um pouco arrogantes e corajosos, muitas coisas boas e algumas… Você sabe. Pergunte à sua companheira. E você também pode se informar.
Sobre o livro novo que você está trabalhando para a Pantheon, Records, certo? Não quero nenhum spoiler, mas o que você pode adiantar sobre o futuro da Karen? Ela tem grandes aventuras à frente?
O livro no qual estou trabalhando para a Pantheon é um prelúdio. Ela se passa antes da morte da Anka. É em grande parte sobre o relacionamento entre a Karen e a Anka. É divertido e triste. E também assustador. É principalmente sobre fantasmas, fantasmas de Chicago. Então eu também estou amando esse livro.
Mas sobre o futuro da Karen… As coisas serão selvagens para a Karen, na verdade já são. O futuro dela é uma loucura, de verdade.