A quarta edição da revista Plaf tem lançamento marcado para sábado, dia 25 de abril, às 16h, em uma live no perfil da loja e editora Ugra Press no Instagram. O evento será um bate-papo entre uma das coeditoras da publicação, a jornalista Dandara Palankof, e o editor e sócio da Ugra, Douglas Utescher.
A Plaf chega em seu quarto número tratando do futuro dos quadrinhos no Brasil, com textos abordando modelos de distribuição e o uso da linguagem das HQs. Entre os destaques da edição estão um texto assinado pelo editor da Veneta, Rogério da Campos, e uma entrevista da pesquisadora Maria Clara Carneiro com a quadrinista Luli Penna.
A publicação ainda conta com um texto da jornalista Gabriela Borges sobre obras experimentais, uma matéria sobre a democratização de eventos de quadrinhos, um perfil do quadrinista José Marcio Nicolosi e HQs de Adri A. e Henrique Magalhães. A capa é assinada pela quadrinista Amanda Miranda.
Além do lançamento dessa quarta edição da Plaf, também foi divulgado o novo site da publicação, no qual as três edições prévias estarão disponíveis para leitura gratuita.
Bati um papo por email com o jornalista Paulo Floro, coeditor da Plaf ao lado de Dandara Palankof e Carol Almeida. Na conversa a seguir ele fala um pouco sobre os destaques desse quarto número, faz um balanço da publicação até aqui e faz uma breve análise sobre os possíveis impactos da pandemia do novo coronavírus na cena brasileira de HQs. Saca só:
A Plaf tá chegando agora em sua quarta edição. Qual balanço você faz desse projeto?
Estamos empolgados que o projeto esteja vivo e com novidades para o futuro, pois desde o início sabíamos das possibilidades que ele poderia alcançar. Já tinha experiência na cobertura de quadrinhos e na edição de um veículo, a Revista O Grito!, mas nada se compara a tocar uma edição impressa. É um desafio enorme e fico feliz que a gente tenha conseguido se manter, apesar de todos os percalços. Tivemos contratempos após a segunda edição, que atrasou o lançamento da 3, mas isso nos deu experiência para melhorar, sobretudo na questão da distribuição. Queremos fortalecer cada vez mais a rede de lojas especializadas e espaços que vendem e fomentam a produção de quadrinhos autorais brasileiros.
A cena de quadrinhos no Brasil segue forte e queremos colaborar com essa cena discutindo e refletindo sobre ela. Mesmo enfrentando uma crise financeira anterior a essa pandemia, vemos artistas e editoras interessados em explorar diferentes possibilidades dos quadrinhos e trazendo discussões interessantes, apesar das adversidades. É um momento bem interessante e estamos felizes em poder participar de alguma maneira.
Além desse número 4, estamos já editando a número 5, que sairá ainda este ano. E também já iniciamos conversas com parceiros para manter o projeto por mais tempo. Queremos também pensar projetos atrelados à revista, mas ligados aos quadrinhos, ainda tudo muito incipiente. Temos tido um bom retorno de leitores e artistas a cada número da Plaf e esgotamos praticamente as tiragens anteriores, então, acredito que o potencial da revista para crescer segue forte.
“É o tempo de descobrir o serviço de entregas de sua comic shop preferida ou pelo menos checar como eles estão se mantendo nesses dias de quarentena”
O que você pode adiantar sobre o perfil do José Marcio Nicolosi e da entrevista com a Luli Penna?
O perfil do Nicolosi faz parte da nossa seção HQPedia, que tem como proposta fazer um perfil de autores e autoras brasileiras de diferentes épocas. Queríamos falar de alguém que tem um estilo muito próprio, mas que também atua no quadrinho mainstream brasileiro, que é o caso dele. O trabalho dele é incrível, tanto na Turma da Mônica quanto em sua série Fetichast. Já a entrevista de Luli Penna foi feita por Maria Clara Carneiro e traz uma conversa bem interessante sobre como os quadrinhos podem nos ajudar a recontar o passado, trazer novos olhares sobre o presente.
Gostei muito da capa dessa quarta edição da Plaf. Por que convidar a Amanda Miranda? Vocês passaram alguma pauta específica para a produção desse trabalho?
Somos suspeitos, mas essa capa de Amanda ficou mesmo linda. Quando ela nos enviou ficamos abobalhados, de cara. Pensamos nela depois de ler Hibernáculo, que é uma HQ incrível com um domínio grande da ambientação. É isso que mais curto no trabalho de Amanda, essa capacidade que ela tem de criar um clima específico, um “espaço” próprio, que te deixa preso ali. Como aconteceu com os outros autores da capa, nós conversamos sobre a pauta principal da edição, de uma maneira mais geral. Então ela sabia que falaríamos sobre futuro, mudanças, perspectivas, etc. Mas o direcionamento e visão foi totalmente livre. Tanto a capa quanto a HQ principal, também assinada por ela, comunicam bem o que queremos passar com essa edição.
Essa quarta Plaf trata do futuro dos quadrinhos tanto em termos de linguagem quanto de negócios. Por que esses temas?
Nós editamos a Plaf 3 e 4 quase ao mesmo tempo e pensamos que uma maneira de encerrar essa primeira fase do projeto (#1 a #4) fosse falar de passado (a edição #3) e futuro (esta edição #4). Acho que isso nos ajuda a compreender esse momento atual ao mesmo tempo em que nos dá abertura para pensar possibilidades e perspectivas. Então, essa revista discute futuro em termos mercadológicos, como é o caso do texto de Rogério de Campos e da reportagem das novas convenções (PerifaCon/Palafitacon) como em linguagem, que é a matéria de Gabriela Borges. Mas tem também um olhar sobre o país a partir das HQs, como no papo sobre Sem Dó, da Luli Penna.
“A pandemia vai nos ajudar a entender melhor a importância de fortalecer uma cena onde todo mundo seja beneficiado”
Ainda sobre o futuro… O FIQ foi adiado, autores e editoras estão suspendendo lançamentos e lojas especializadas estão fechadas. Ainda estamos no olho do furacão, mas você já consegue dimensionar o impacto da pandemia do novo coronavírus no mercado brasileiro de quadrinhos?
Estávamos pensando em lançar a edição da 5 no FIQ e todo nosso planejamento estava voltado para isso. A 4 também seria lançada em São Paulo, estava tudo organizado. Acho que, em um primeiro momento, a quarentena deixou todo mundo sem eixo. Agora, ainda que eu tenha tentado ter uma atitude mais assertiva para esse momento, ainda acho tudo muito nebuloso, incerto. É um momento difícil, sobretudo por conta do contexto desse desgoverno que torna tudo ainda pior. Estamos trabalhando, isolados, na próxima edição e esperando definições.
Para esta edição 4 decidimos realizar um lançamento virtual, com uma live, porque acho que a cena precisa seguir, na medida do possível, ativa. É o momento da gente exercitar a solidariedade e pensar no que pode contribuir de alguma maneira. Ligar para a banca preferida, saber se estão entregando gibis, revistas. É o tempo de descobrir o serviço de entregas de sua comic-shop preferida ou pelo menos checar como eles estão se mantendo nesses dias de quarentena. E, mais do que nunca, ter a consciência de que o quadrinho é parte de uma economia criativa, não é diletantismo, e que todos os profissionais são afetados com esse isolamento.
Quando tudo isso passar, as grandes redes de livrarias e multinacionais como a Amazon terão sobrevivido (e talvez estejam ainda mais fortalecidas), mas aquela loja que te apresentava novos artistas e que guardava os lançamentos pra você, talvez tenha fechado as portas. Não gosto de ser aquele que fica dizendo onde a pessoa deve ou não comprar ou ficar policiando comportamentos de consumo, mas acho que essa pandemia vai nos ajudar a entender melhor a importância de fortalecer uma cena onde todo mundo seja beneficiado (artistas, editores, lojistas e público).