A campanha de financiamento coletivo do álbum PARAFUSO ZERO – Expansão não atingiu a meta de R$ 28,500 para que a obra fosse impressa. No ar no site Catarse ao longo de 60 dias, o projeto do quadrinista Jão, que teve a minha participação no papel de editor do quadrinho, contou com o apoio de 220 pessoas e conseguiu pouco mais de 80% do montante pedido.
Produzida durante todo o período da campanha, a série de posts PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores teve como proposta tratar do desenvolvimento da HQ e das reflexões de seu autor enquanto o projeto buscava apoio e tomava forma. No post de hoje, penúltimo da série, Jão fala sobre a meta não alcançada para o financiamento do álbum, faz um balanço inicial desses dois meses de campanha e trata de seus próximos trabalhos. Saca só:
PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #12: Balanço e próximos projetos]
Saldo positivo
“Acredito que, mesmo que o projeto não tenha atingido seu objetivo e sido bem-sucedido, o saldo foi positivo. Foram mais de 220 pessoas que apostaram na ideia, que fizeram parte disso tudo junto comigo. Nossa própria experiência, eu na posição de autor e você na de editor, na construção dessa campanha e de tudo o que conversamos sobre o álbum foi algo que gostaria de ressaltar como muito importante para minha carreira também. O desenvolvimento junto com toda a equipe que trabalhou muito para viabilizar essa piração minha foi incrível e enriquecedor. Além disso, vejo que meu trabalho ficou muito mais conhecido desde a abertura do financiamento coletivo do quadrinho, tem muito mais gente me acompanhando e interessada em saber o que estou fazendo, o que, por si só, é algo que acrescenta demais para mim como artista.
É um projeto que não deu certo e isso é ruim, pois gostaria muito de ter conseguido realizar essa história já que considero ser minha incursão com maior grau de experimentação na linguagem dos quadrinhos até aqui. Sem contar que, cada vez mais, esse universo que iniciei em 2016 está se tornando parte de nosso cotidiano, basta andar na rua e ver a onda de violência e de discursos extremistas que estão tomando conta de nosso país atualmente. Talvez o PARAFUSO ZERO – Expansão seja o meu Duna (risos) De qualquer forma, analisando friamente, acho que o balanço é bom. Fizemos muitas coisas, rolou uma divulgação muito legal por parte da mídia especializada, abrimos um canal para falar de certos aspectos que não estavam sendo discutidos dentro do mercado autoral aqui no Brasil, como é o caso dos super-heróis na contracultura. Em resumo, mesmo que não tenha dado certo, estou satisfeito”.
Balanço
“Eu acho que ainda está cedo para uma análise mais profunda em termos de erros e acertos, assim como lições que serão tiradas a partir da experiência com a campanha. Espero que nos próximos dias possa fazer uma avaliação mais detalhada e extrair conhecimento de tudo isso que fizemos juntos. Agora estou exausto. Um ponto que gostaria de destacar, contudo, é que minha opinião não mudou em relação ao financiamento coletivo. Ainda acho que é uma das melhores formas de viabilizar projetos de quadrinhos. A questão é entender onde surgiram os problemas que afetaram no desempenho de arrecadação da campanha. Ficamos com mais de 80% da meta atingida, então acho que, com alguns ajustes, dá para seguir utilizando esse modelo, até porque é construída uma relação próxima entre autores e leitores, o que considero muito importante”.
Viabilidade
“Acho difícil que um dia a PARAFUSO ZERO – Expansão venha a acontecer. Entrei no financiamento coletivo porque foi a forma que encontrei para viabilizar esse trabalho. Como disse anteriormente aqui na série Bastidores, acho que essa obra tem muito a ver com adereços que são acoplados ao produto final, sejam zines, cards, pôsteres etc. Não era só um álbum, era uma expansão em diversos aspectos. Antes mesmo do início da campanha no Catarse, recebi propostas de editoras interessadas no projeto, mas não cheguei em uma conclusão sobre como poderia ser feito um acordo que viabilizaria todo o suporte necessário para a publicação, incluindo esses produtos que orbitam o título e a equipe que está trabalhando comigo…”
Descanso e próximos projetos
“Agora quero tirar uns dias para descansar e avaliar tudo isso que fizemos. Acho importante e necessário. Somente após esse período que vou pensar quais serão os meus próximos passos. Tenho muitos projetos em curso, que estão em diversos níveis de execução, então terão novos trabalhos meus circulando por aí em breve, só não sei dizer quais (risos) Fiz o financiamento coletivo de uma forma em que nada do valor arrecadado viria pra mim diretamente, ou seja, meu pagamento como autor seria viabilizado por meio das vendas dos álbuns depois do lançamento, mas foi algo que resolvi apostar e dedicar meu ano. Como não rolou, terei que investir um tempo em trabalhos fora dos quadrinhos também”.
CONTINUA…
ANTERIORMENTE:
>>PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #11: Estrutura, experiência de leitura e construção narrativa];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #10: Catálogo de personagens];
>>PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #9: Facebook, drogas psicodélicas e algoritmos falhos];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #8: Viabilidade, encontros e trocas];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #7: Chris Ware, Elza Soares, Emicida e uma teia paranóica de referências];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #6: Akira, Wally e paralelismos distópicos];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #5: Proporções extremas e a insignificância humana no Universo];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #4: A origem do ‘Formato Jão’];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #3: Um sonho com Moebius];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #2: Baixo Centro, Flores e texto];
>> PARAFUSO ZERO – Expansão: Bastidores [Parte #1: origens, restrições e OuBaPo].