O roteirista Celio Cecare e o ilustrador Fábio Cobiaco lançam no sábado (26/5) o álbum Garotos do Reservatório. A sessão de autógrafos do álbum da editora Mino rola a partir das 15h, na loja da Ugra (Rua Augusta, 1371 – loja 116), aqui em São Paulo. Você confere outras informações sobre o lançamento na página do evento no Facebook.
Quadrinho de estreia de Celio Cecare e primeiro trabalho de Fábio Cobiaco em seguida ao excelente Mayo, Garotos do Reservatório apresenta uma trama intimista, com diálogo rápidos e várias referências a obras da cultura pop. Tradutor de alguns títulos da editora Mino, Cecare respondeu a algumas perguntas por email sobre as origens do projeto, suas inspirações e referências e a dinâmica do trabalho com Cobiaco. Saca só:
Garotos do Reservatório é o seu primeiro quadrinho publicado, certo? Acho que leitores mais atentos vão lembrar do seu nome nos créditos de algumas publicações da Mino como tradutor, mas você poderia falar um pouco de você e como surge o seu envolvimento com quadrinhos?
É estranho porque o meu envolvimento com quadrinhos começa mesmo antes mesmo de saber ler, muito desenho animado da Filmation e os desenhos ‘animados’ da Marvel que passavam em um canal que pegava todo chuviscado (e que você tinha que sintonizar o tempo todo no UHF) e junto com tudo isso tinha meu avô e a minha mãe, que me davam gibis sempre quando a gente saía (quando eu tinha 6 ele me deu Cavaleiro das Trevas #4, só fui saber o começo da história, uns cinco anos depois.). Mas quando gibis me arrebataram completamente eu já era bem mais velho. Eu tinha nove anos e um dia passei na banca antes da escola pra comprar um livro e o dinheiro só dava para uma HQ (usada) e aí eu peguei Novos Titãs #19 e aquilo arrebentou minha cabeça, era o meio de Contrato de Judas e aí você tem na mesma HQ uma perseguição linda, o Dick Grayson (spoilers) virando Asa Noturna e a origem do Exterminador, era impossível colocar o gibi de lado… E era exatamente o que a professora queria que eu fizesse e então levei minha primeira advertência. A partir daí foi ladeira abaixo tanto em advertências quanto em quadrinhos. Depois de um tempo veio a vontade de escrever, primeiro histórias curtas, depois roteiros e etc.
Você pode falar um pouco sobre as origens da HQ? Você se lembra do instante em que teve a ideia de contar a história de Garotos do Reservatório?
Comecei a escrever em 2012 como um conto, depois de ver Cães de Aluguel pela sei lá qual vez. Eu tinha 32 anos e comecei a perceber que o pessoal que passou a adolescência inteira comigo não estava mais por ali, aí você exponencia essa situação corriqueira ao máximo e surge prisão, redenção, etc… Mas eu sentia que não tinha conseguido explorar ao máximo essa nostalgia e fui fazendo novas versões, mais quebras e tal até sair o roteiro com o qual trabalhamos. Aí a Jana (editora da Mino) deu mais uma espremida e apontou o que funcionava ou não para tirar o máximo possível da HQ.
Como rolou o convite para que o Fabio Cobiaco ilustrasse o seu roteiro? Você poderia, por favor, falar um pouco da dinâmica de trabalho de vocês?
Eu sou apaixonado por HQs e sempre quando posso pego uma commission ou uma arte original e o Fábio é o Fábio Cobiaco. Um traço lindo e uma arte que me faz babar demais. Logo após conhecê-lo no lançamento de Mayo eu pedi pra ele duas commissions e o resultado foi incrível, sério um lance de cair o queixo, depois de um tempo juntei mais uma grana e pedi mais duas e depois mais uma arte original de Mayo. Até que achando chata tanta tietagem, mandei o Garotos do Reservatório para ele ler, era mais um lance de falar ‘ah, eu escrevo’, para não ficar parecendo Louca Obsessão. Depois de um tempo, quando era pra mandar as commissions, ele falou ‘Cara, topa fazer essa em parceria?’. Nem passava isso pela minha cabeça, mas falei ‘Claro, vamos sim’ e depois de um tempo começaram a aparecer designs, rascunhos e páginas. E é um lance louco porque você começa a ver todo aquele universo que começou, mas era sem forma e ele se torna mais concreto, daí você não consegue mais imaginar ele de outra forma. Rolou uma síntese muito legal entre o texto e a arte, ele captou incrivelmente bem a essência da história.
Durante a leitura do quadrinho eu fui sacando algumas referências principalmente a filmes e músicas. Quais são as suas principais influências? E outra pergunta: o que você mais leu, ouviu e assistiu enquanto concebia a história de Garotos do Reservatório?
Influência é algo complicado de falar porque sempre vai ter mais nomes do que você consegue mencionar, mas citando pouca gente, acho que na literatura seria Fitzgerald e Hunter S. Thompson, em seriados David Chase, Aaron Sorkin e aí tem mais um punhado de pessoas que me influenciaram de uma maneira ou outra: Mitch Hedberg, Marc Maron, Bill Hicks, Dan Harmon, Tarantino e Kevin Smith.
Quando comecei a pensar na história do Garotos do Reservatório eu tentei focar no que eu e meus amigos consumíamos de cultura pop nessa época e não dá pra lembrar dos anos 90 sem pensar em Tarantino, é como se toda uma geração meio que surgisse ali. Tarantino e então Rodriguez, Kevin Smith, eram pessoas que consumiam mais ou menos o que a gente consumia. Era bizarro ver citações a Quarteto Fantástico e a Star Wars nos filmes por ser o tipo de conversa que a gente fazia: horas sentados no bar conversando sobre como seria Star Wars – Episódio I (e em nenhuma dessas horas falamos de midchlorians, não importa o quão bêbado a gente estivesse), falando sobre algum seriado antigo e diversas noites em que passávamos vendo um filme atrás do outro. Nesse sentido, o Cães de Aluguel é um ponto de referência para mim, foi uma validação pra essas conversas que sempre tive e um catalizador de muitos filmes ruins tentando emular aquilo – mas também tem muita coisa boa que teve uma chance pelo sucesso do filme e que não aconteceria em outras circunstâncias.
Você conseguiria imaginar uma trilha sonora pra sua história?
Além das óbvias C.R.E.A.M. do Wu Tang Clan e Rise do Pil, ia ter Velvet Underground (Oh! Sweet Nuthin!), The Clash (Death or Glory, por mais que eu queira I fought the Law, ia ser muito manjada), Warren Zevon (I Was in The House When the House Burned Down), Morrissey (First of the Gang to Die), Grateful Dead (So Many Roads), Pulp (We are the Boyz), Iggy Pop (Real Wild Child) e, finalmente, Summer of Drugs da Victoria Williams.