Ugra: a nova loja de quadrinhos e publicações independentes de São Paulo

A partir de julho de 2015, a loja 116 do número 1371 da Rua Augusta em São Paulo será a sede da Ugra. Empreitada do casal Douglas e Daniela Utescher, o estabelecimento terá como foco quadrinhos e publicações independentes, assim como a loja virtual no ar desde janeiro de 2013. A trajetória da Ugra é emblemática no universo dos quadrinhos independentes brasileiros. O projeto surgiu em 2010, com a publicação do primeiro Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas e o nascimento do selo Ugra Press. Desde então, o anuário ganhou continuações em 2011 e 2013, o selo virou editora com títulos e coletâneas próprias, a loja online foi fundada e o Ugra Zine Fest virou um dos principais encontros de HQs e publicações independentes no país com três edições realizadas. No catálogo da editora já constam pérolas como a coleção Maldito Seja – uma série com três edições que reeditam trabalhos de quadrinistas brasileiros independentes – e Chuva de Merda, coletânea com os quadrinhos de Luiz Berger.

A loja da Rua Augusta é o ponto alto de um percurso iniciado sem pretensões, mas de grandes conquistas em curto-prazo. No início de maio, quando os planos para a loja ainda eram segredo, sentei para conversar com Douglas Utescher durante mais de uma hora para uma matéria que publicarei em breve. O papo rendeu pra caramba e contém depoimentos e interpretações fundamentais para a compreensão do mundo dos quadrinhos e de publicações independentes nacionais. Na conversa, Utescher relembrou as origens da Ugra, adiantou os projetos da editora para 2015 e analisou alguns dos principais desafios da empresa e de quem vive de quadrinhos no Brasil. Papo legal demais. Ó:

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A ideia da entrevista é falarmos desse universo de quadrinhos independentes nacionais. O que tá rolando, se há uma cena, como você lê esse universo, qual o potencial dessas publicações…

Alguns anos atrás, muita gente achava que o quadrinho independente ia dar em alguma coisa. Aí o tempo passou e rolou apenas em termos, mas não da forma como muita gente esperava. Algumas pessoas pensavam: “meu, se pá, dá pra ter uma carreira com isso aqui, dá pra fazer isso virar um trabalho”. E não deu pra muita gente. Cada um tem uma visão do negócio. A gente vê os autores correndo atrás de algumas soluções que pra gente, como editora e lojista, é tiro no próprio pé. E tem outras coisas que a gente enxerga que, pra nós, faz muito sentido e quando a gente leva pros autores, ele questionam.

Uma coisa que a gente tava conversando: pra mim é muito claro que há um problema de divulgação, forte. Há muita coisa foda sendo lançada, muito coisa que eu acho de um nível altíssimo, isso sim é um movimento relativamente recente, de uns anos pra cá. Só que o público não sabe. E nem o autor, o editor e os lojistas, sabem como fazer para o público saber. Você precisa de um apoio de mídia pra isso. Você precisa de alguém que tenha respeito, que tenha uma credibilidade junto ao público e que leve lá e fale assim: “gente, isso aqui é muito legal!”. Só pra exemplificar isso: quando saiu a Xula, ela não era exatamente uma revista barata, com exceção do (Bruno) Maron os outros autores envolvidos não eram grandes nomes. Os outros caras, por melhores que eles sejam, não são muito conhecidos. Mas o que aconteceu? A Xula saiu, aí o André Forastieri achou do caramba e elogiou. Outros caras com acesso à imprensa leram, gostaram do negócio e levaram isso pra lá. O resultado é que a revista esgotou. Enquanto muitos trabalhos publicados no mesmo momento e de qualidade tão boa quanto à Xula – que eu achei uma revista excelente – dificilmente conseguiram escoar. Se ele imprimiu mil, dificilmente conseguiu vender quinhentas até agora. Então tem isso: o que você faz com tanto material bom que as pessoas dificilmente sabem que existe?

Quando a gente monta a banquinha da Ugra em evento é muito comum essa situação. Chegar aquele leitor típico de quadrinhos e o cara diz, “nossa, mas isso aqui é brasileiro?”. Sim, é brasileiro. “Nossa, mas eu não sabia!”. E aí a sensação que a gente vê estampada no cara é que, diante de tanta coisa, ele também não sabe nem por onde começar. Ele não tem nenhuma dica e acaba meio que travando. Duas coisas que precisavam ser consertadas com urgência: distribuição e divulgação. O público precisa saber o que existe, precisa ter gente que consiga falar sobre isso, estabelecer uma crítica sobre o assunto, uma discussão sobre o assunto, da mesma forma que você vê gente falando quando sai algo da Marvel ou DC. Tem pessoas que comentam muito bem isso, é que não me interessa muito, mas eu vejo discussões aprofundadas sobre esse universo. Existe uma discussão sobre o assunto que é recorrente e vai melhorando com o passar do tempo pois as coisas vão se somando. No quadrinho independente as coisas são pontuais. Vez ou outra aparece uma Xula que consegue furar o cerco e vai lá e pá. Aí funciona pra ela. Só que precisa funcionar pra todo mundo. Do contrário, e aí?

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Essa é uma realidade que não diz respeito apenas a quadrinho né? Tenho certeza que o cara da música pensa o mesmo que você. E você não acha que tem que partir dos quadrinistas e editores mudarem a percepção deles em relação a divulgação e distribuição?

Você falou sobre música, né? Música e quadrinhos são coisas que me acompanham desde moleque. Eu comecei lendo quadrinhos, mas eu sempre gostei das coisas mais escrachadas. Então o meu despertar pra quadrinhos foi a MAD, da MAD pra Chiclete com Banana, da Chiclete com Banana pra Geraldão e Animal. Sempre gostei dessas coisas mais tortas. Com música foi a mesma coisa. Comecei a gostar de música porque tinha primo metaleiro, daí fui pro punk e tal. Fiquei uns 15 anos muito envolvido com música, tinha banda, selo, lançava disco de outras pessoas. A música no meio independente, mesmo aqui no Brasil, estabeleceu formas de se divulgar. Formas eficientes, que funcionam. Você tem, trocentos blogs, alguns grandes, outros menores, além dos fanzines – não são mais tão comuns assim os fanzines sobre música, mas existem. Há uma tradição de blogs e sites que são independentes e que falam sobre música independente. Então, de alguma forma, uma banda quando vai se divulgar sabe que vai falar com um nicho. Isso eu acho que nos quadrinhos ainda não tá claro, pro autor independente, ele acha que vai sair e já sabe o que fazer. Lógico, também não é só a divulgação que vai fazer o negócio, mas o músico consegue pelo menos fazer que o público dele saiba que ele existe. Daí vai pro critério do público, que vai olhar e decidir se é bom ou não, pra alguns vai ser, pra outros não. Mas enfim, uma vez que o público sabe da existência, já facilita. Agora pro quadrinho a gente não chegou nisso ainda. Talvez por ser uma coisa relativamente recente, de você realmente ter uma cena de quadrinhos independentes, fora dos fanzines – até o final dos anos 90 você tinha umas revistas que apareciam em banca e tinha uma movimentação grande de fanzine, mas fanzine sempre foi essa coisa mais despretensiosa. E também não tinha nenhuma grande aspiração e tal, de qualquer forma os investimentos eram muito menores.

Hoje em dia você vê autor jovem, moleque, que faz um quadrinho e transforma aquilo num álbum, bem impresso, com uma produção gráfica bacana. Lógico: se o cara fez mil cópias com um acabamento legal, ele tem um compromisso de ter o retorno daquilo, pelo menos conseguir empatar o investimento. Pra isso, ele precisa de um suporte maior de divulgação. E a gente não tem isso ainda pros quadrinhos. Você tem trocentos blogs que vão falar sobre qualquer coisa que saia sobre a Panini. “Mudou uma listra do uniforme do herói sei lá o que”, os caras ficam, “Ai, meu deus, e agora? Saiu uma listra nova!”. E aí saem uns quadrinhos sensacionais e ninguém fala. Pra você ter uma ideia, a gente lançou o Chuva de Merda. A gente fez um pacote promocional e enviamos pra 12 sites, revistas e blogs. Só tivemos respostas de você e do Contraversão. O resto, ignorou sumariamente. A gente mandou email perguntando se tinha recebido, “ah, recebi”. Sabe? Não saiu nenhuma notícia. Eu não tô pedindo pra falar bem, mas eu gostaria que as pessoas soubessem que existe. Mesmo que seja pra criticar – e lógico que quando você lança um quadrinho que chama Chuva de Merda, você está dando motivos para as pessoas criticarem (risos) Por mais que eu goste, entendo que há razões para que nem todo mundo goste. Mas não é isso, só gostaria que as pessoas soubessem que existe. Se ninguém fala, ninguém sabe que existe.

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Mas tem uma fórmula? Tendo já trabalhado em redação e visto esses kits chegarem, seja por falta de interesse ou por excesso de trabalho, esse material acaba indo pra um montinho com vários outros. Se eu fosse assessor, não saberia a melhor forma de fazer isso chegar à imprensa.

A gente adotou uma política de continuar tentando. Quem sabe pela insistência? Saiu esse e não falaram, quem sabe daqui a pouco a gente lança outra coisa e o cara fala, “putz, aquela Ugra de novo”. Uma hora pode ser que role. Mas a gente fica pensando: a Ugra é uma microeditora. A gente faz uns quatro lançamentos por ano. Esse ano a gente tá um pouquinho mais metido a besta e se tudo der certo lançamos um pouco mais do que isso. Mas eu não tenho dinheiro pra ficar mandando coisa de graça assim, sabe? E porra, de 12, duas pessoas responderem. Dez pessoas não deram a mínima. Eu podia ter feito outra coisa com esse dinheiro. Se eu tivesse usado essa grana pra fazer uma campanha no Facebook, um link patrocinado ou qualquer coisa assim, meu resultado poderia ter sido melhor. Mas é que ainda acho que seria legal se as pessoas que estão falando sobre quadrinhos, que se propõem a falar sobre quadrinho, abrissem portas pra discutir outra coisa que não seja a listra do uniforme do super-herói X, entendeu?

Você diz que a Ugra é uma microeditora. Claro, é micro comparada a uma Companhia das Letras. Mas em termos de universo de quadrinhos independentes, vocês são gigantes.

Sim. Mas acho que como loja, não como editora.

Mas será que as pessoas conseguem distinguir vocês como loja e editora?

É…em parte isso é culpa nossa.

Mas não tô dizendo que isso é ruim…

Em parte ela começou como uma coisa e foi se transformando conforme surgiram as ideias. A Ugra era pra ser um fanzine.

Então vamos voltar: vocês surgiram em 2013? O que vocês faziam antes da Ugra?

Na verdade a gente surgiu em 2010. Esse ano a Ugra fez cinco anos de existência como projeto. O que aconteceu: eu tocava numa banda. Sempre fui muito amigo de um dos vocalistas, eram dois. Quando a banda acabou a gente queria continuar fazendo alguma coisa juntos.

Vocês tocavam o que?

A gente tocava barulho, cara. Grindcore, death metal, essas coisas assim. E somando tudo, a gente teve quase uns 15 anos de banda juntos. Nos anos 90 eu tinha feito um fanzine de música, e o Leandro (Márcio Ramos) também tinha feito outro, em que ele publicava uns textos dele. Quando a banda acabou em 2008 queríamos continuar fazendo algo juntos, que não fosse fazer música. A primeira coisa foi: vamos fazer um fanzine. A gente ficou pensando como fazer. Em 2008, nem faz tanto tempo assim, todo mundo falava que o fanzine morreu, que era coisa do passado. Tava morto, enterrado e ponto final. Só que a gente achou que ia ser muito legal fazer um fanzine, aí foda-se e vamos fazer. “Era muito legal fazer nos anos 90 e vai ser muito legal fazer de novo!”. Fanzine nunca precisou de desculpa pra existir né? De qualquer forma a gente quis entender o que tava rolando de fanzine. A gente sabia que tinha alguma coisa acontecendo, mas não estávamos realmente inteirados de tudo. Então eu comecei a correr atrás pra entender naquele momento o que tava rolando, mas num ritmo bem lento. O tempo foi passando e em 2009 a gente ainda tava discutindo e aí eu comecei a fazer uma pós-graduação de design gráfico e precisava definir qual ia ser o tema do meu TCC. Resolvi fazer o sobre fanzines. A primeira coisa que meu orientador me perguntou foi: “mas e aí, fanzine não morreu?”. Ele começou a fazer um monte de pergunta pra mim sobre como é que tava o status do fanzine naquele momento. Aí eu comecei a pesquisar: uma coisa que a gente sacou foi que tinha bastante gente fazendo fanzine, mas as pessoas não sabiam.

É engraçado, todo mundo que tava fazendo achava que tava fazendo sozinho. Nos anos 90, quando começamos a fazer fanzine, a internet não era tão popular e a maioria das coisas acontecia por cartinha. Só que o negócio funcionava super bem. Eu soltava um número novo do meu fanzine hoje e daqui duas semanas eu tava recebendo carta do Nordeste e sei lá como o cara ficou sabendo, mas um passou pro outro e o Brasil inteiro sabia que você tinha um zine novo. Por mais rudimentar que fosse essa rede, ela funcionava. Aí agora, em 2008 e 2009, não tinha. Onde foi parar essa rede? Tava todo mundo fazendo e achando que tava fazendo sozinho. Aí pensamos em fazer um anuário. Se a gente criasse alguma coisa que servisse como referência pra quem tá querendo entender o que está acontecendo hoje de publicação independente, poderia ser legal, poderia funcionar para pessoas como nós que estão olhando pra isso e “ué, mas tem gente?”. Tá, então vamos fazer o seguinte: a gente abre um blog do projeto, vai colocando outras coisas, umas matérias sobre cultura independente, e aí depois lançamos uma convocatória pras pessoas mandarem coisa pra produzirmos o anuário. Aí nessa a gente abriu o blog, já com o nome Ugra.

Então a Ugra começa como uma ideia de fanzine que virou um blog e aí depois a gente foi fazer o anuário. No final recebemos 125 publicações pro anuário, aí já era de 2009 pra 2010. Pra um negócio que parecia que tava morto, você receber 125 publicações, sinaliza uma outra verdade. A nossa teoria de que as pessoas nem sabiam que aquilo existia aparentemente tinha se comprovado. Então começamos a editar o anuário: todo o material que recebíamos era lido e resenhado. As coisas que a gente achava que eram mais legais, fazíamos uma entrevista rápida com os editores. Compilamos tudo isso e lançamos num anuário impresso. Quando a gente foi lançar o impresso resolvemos fazer uma festa igual quando lançávamos um fanzine. O default de lançamento de fanzine era isso, você chamava banda de amigo. A gente tinha uns amigos que tinham uma casa numa travessa da Augusta, chamava Espaço Impróprio, um lugar meio punk e tal, e eles toparam abrigar o lançamento. Você conhece o Rodrigo Okuyama? Ele faz um trampo sensacional, que mistura quadrinho e ilustração com estencil. A gente tinha recebido um zine dele, La Permura, e ficamos, “caramba, esse cara é muito bom”. Chamamos ele pra fazer uma oficina de encadernação manual e ele topou. Um pessoal do Rio tinha lançado e mandado pra gente um zine sobre vegetarianismo. A capa do zine era serigrafada. Eles ficaram sabendo da festa, quiseram vir pra conhecer a gente e pô, já que ele vinham, chamamos pra fazerem uma oficina de serigrafia em papel. Bom, aí já tínhamos três shows, uma oficina de encadernação e uma de serigrafia. “Pô, então podíamos fazer uma exposição juntando o material…”. Então a gente fez uma exposição com todo o material que a gente recebeu. O negócio foi crescendo assim e uma hora não cabia mais no Espaço Impróprio e não dava pra fazer em um dia. Então na sexta-feira a gente fez um show no Espaço Impróprio. Tinha uma galeria abrindo em Pinheiros, a Concreto, e no sábado eles receberam o resto das atividades. Resolvemos fazer uma feira, que era uma mesa não muito grande e cada um que chegava deixava um pouco de zines ali. A gente pagou todo mundo ali mesmo, tudo bastante informal. Daí surgiu a feira que a gente faz, o Ugra Zine Fest. Era só pra ser uma festa de lançamento. Aí 2010 a gente fez o anuário, 2011 lançamos outro, em 2013 a gente fez o terceiro, que foi o que ganhou o troféu Ângelo Agostini. De 2012 pra 2013 a gente começou a pensar o lance da loja.

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Mas voltando, antes disso tudo era uma coisa informal, você não vivia disso. O que você fazia?

Eu trabalhava. O Leandro trabalha no Uol até hoje, mas chegou num momento que o negócio tava tomando muito tempo, ele não queria se prender e saiu. Quando ele saiu, a Dani já tava super-envolvida e sempre ajudava, participando e dando ideias. Quando o Leandro saiu a gente assumiu como um projeto do casal. Mas eu trabalhava no departamento de marketing de uma empresa e a Dani trabalhava no Itaú. A Ugra era um projeto paralelo, igual a banda, um hobbie, um projeto independente. Entre 2012 e 2013 a gente começou a amadurecer a ideia da loja…

O anuário tinha muito fanzine mesmo, xerocado, mas aí a gente abriu, tanto que o nome é “Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas”. Tem uma discussão sobre o que é fanzine, o que é zine e publicação alternativa, tem gente que contesta o que é independente e o que é zine, enfim (risos) Colocamos esse nome grande pra abarcar tudo que a gente imaginava e recebemos bastantes quadrinhos. Naquele momento tinham muitas antologias bem legais. Meio que sacando essa movimentação, principalmente dos quadrinhos, percebi que se você queria comprar algo, sei lá, mandava um email pro pessoal da Prego e aí comprava. Aí saia a Samba em Brasília. Aí eu escrevia, me apresentava e ia lá fazer um depósito e o cara me mandava. Aí de repente você ficava sabendo que saiu a Beleléu no Rio de Janeiro. Aí eu escrevia, me apresentava e comprava o negócio. Muita coisa acabava escapando, eu tinha que ficar correndo atrás. Começamos a pensar: “pô, seria uma mão na roda pra quem gosta de quadrinhos independentes se você pudesse comprar tudo de um lugar só”. E você seria mantido atualizado, entraria na lojinha e teria uma noção de grande parte do que tava rolando de quadrinho independente naquele período. Aí, pra comprar, ao invés de sair feito um louco fazendo trocentos depósitos, você comprava tudo junto, pagava uma postagem só e pronto. Meio que pensando nisso a gente pensou na loja virtual.

Eu tava de saco cheio do meu trampo, a Dani tava de saco cheio de trabalhar no banco, então resolvemos que um de nós dois ia sair do trabalho pra começar a tocar no negócio. Como naquele momento, nenhum dos dois queria continuar muito tempo no trampo que tava, a gente falou, o primeiro que conseguir sair vai levando a loja e a gente vê o que rola. A Dani conseguiu a demissão dela e puxou uma grana porque tinha um tempo que tava lá. Deu pra dar uma investida na loja e ele conseguiu se concentar nisso enquanto eu continuava no emprego. Foi isso 2013 e 2014. Em 2014 começou a ficar muito complicado de trabalhar durante o dia e a noite chegar, tomar banho, comer alguma coisa e ficar até 3h ou 4h…A Dani cuida mais dessa parte comercial, de fazer contato com os autores e pegar as coisas. Toda a parte de divulgação da loja eu que faço. Ainda tem as coisas que a gente publica. E tem o evento. Então tava difícil cuidar disso tudo. Consegui minha demissão no final do ano passado e nesse momento virou outra coisa. O plano é meio maluco. A ideia é fazer o negócio funcionar a ponto de sustentar uma casa. Agora faz seis meses que estamos os dois em casa cuidando 100% disso.

Você falou a parte da loja, dos eventos e do zine. Quando que veio a vontade de virar editora?

Então, como a ideia inicial era fazer fanzine, a ideia da editora já tá mais presente antes de qualquer coisa. Um pouco depois que a gente lançou o primeiro anuário, a gente fez um livro artesanal com os contos do Leandro. Foi um projeto bem bacana, mas completamente artesanal, só o miolo que a gente imprimiu em gráfica, mas a capa tinha todo um lance de serigrafia, de costurar a mão. Ainda estávamos entendendo o que publicar. Eu tava fazendo o TCC quando surgiu a ideia de fazer a coleção Maldito Seja. Eu tava conversando muito com o Law (Tissot), que foi o segundo nome da coleção, e ele tem uma fanzinoteca. Ele é fanzineiro desde 1984. Eu era criança e ele já tava fazendo fanzine. Ele mora em Rio Grande, no Rio Grande do Sul e participou de um edital da Funarte e conseguiu uma verba para montar uma fanzinoteca, num primeiro momento com o acervo dele, depois recebeu doações. Nos anos 90 eu tinha tido contato com ele, soube disso tudo, aí mais recentemente fomos pra lá. Quando cheguei lá e vi todo o material, tudo que ele tinha produzido, tinha muito material bom produzido nessa época, de quadrinhos mais experimentais, gente experimentando com a linguagem dos quadrinhos, e é um material que hoje tá guardado na gaveta de colecionador. A maior parte das pessoas nem sabia que isso existia. Ao mesmo tempo eu via uma molecada surgindo e também experimentando com quadrinhos, mas sem eles saberem que existia uma geração anterior à deles. Achei que era necessário contextualizar esses caras: “ó, você que tá chegando agora faz parte de uma árvore genealógica que te antecede”. Aí começamos a amadurecer a ideia da coleção Maldito Seja, mas só consegui colocar ela no papel em 2013, e a gente lançou no último Festival Internacional de Quadrinhos. Foi a do Henry Jepelt e a do Law, depois a do Alberto Monteiro em setembro do ano passado, no Ugra Zine Fest.

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É um choque de realidade muito grande né? Vocês começam com a ideia do zine e passam a editar, daí começam a vender quadrinhos de outras pessoas. O trabalho independente está misturando com o de editoras profissionais e tudo isso tá dentro de um mesmo mercado?

Acho que sim. Isso é muito louco. Quando a gente começou a pensar na Ugra e em todo esses projetos, fanzine era uma coisa que tinha morrido, tinha uma movimentação de quadrinhos independentes. O Alex (Vieira), editor da Prego, é um cara que veio da cena punk/hardcore, então tinha uma vivência bem próxima de fanzines. Mas o pessoal tava apostando mais no formato revista. Houve um momento em que, principalmente, Prego, Samba e Beleléu inspiraram muita gente. Elas deram um lance pro quadrinho que, pro leitor era um oferta, pois durante muito tempo não houve nada que se parecesse com as antologias dos anos 90, tipo Animal, Mil Perigos e essas revistas assim, e pros autores mostrou que havia onde publicar. Mas eles estavam ali, meio que começando a encabeçar uma coisa.

Mas quando digo choque de realidade estou falando da sensação que tenho tanto ao olhar pra vocês quanto pro espaço de quadrinhos da Comic Con Experience. Lá estava a galera que desenha pra Marvel e DC e os artistas independentes. Tem uma efervescência imensa que eu não sei como ler…

Acho que ninguém sabe como ler. Na verdade nao é uma coisa, são várias coisas que aconteceram e em algum momento se encontraram. Você tinha esse lance dos fanzines, que em parte a Ugra ajudou a levantar. Em 2013 tem a primeira Feira Plana, uma coisa muito louca. A Bia (Bittencourt, criadora da Feira Plana) trouxe uma outra visão pro negócio. A Ugra tem esse background da cultura underground dos anos 80 e 90, de onde eu vim. A Bia vai pra Nova York e vê a movimentação de publicações independentes e zine e é um zine com outro contexto, digamos que seja o “zine de artista”. Ela vai lá, vê isso e volta pra cá. E você tem essa galera da Prego, Beleléu, Samba e outras coisas que foram surgindo, a GibiGibi e os caras da Xula, mais uma galera de quadrinhos. Em algum momento, essas (pelo menos) três coisas se juntaram, porque existe uma intersecção entre tudo isso. Que é o fato de estarmos publicando independente e, apesar de ter gente falando que o impresso morreu e ninguém mais faz fanzine, pô, é legal pra cacete fazer e vamos fazer e foda-se. Está todo mundo nessa pegada, fazendo, e quando junta fica uma coisa meio amorfa que acho muito legal. Dá a sensação de um boom, sabe? De que tem alguma coisa acontecendo aqui. Mas o que é? Ninguém sabe. Não sei o que é isso.

Mas não só aqui né? Esse choque de realidade não é algo exclusivamente brasileiro, parece que tá rolando esse movimento no mundo inteiro no que diz respeito a publicações independentes. A minha dúvida é: existe um público em comum pra isso tudo? Como o público lê essa confusão toda?

Essa é uma pergunta interessante. Acho que a gente tem alguns públicos. É um público que tá em formação ainda, não sei se tem uma forma de definir, tem essa confusão ainda. O fã brasileiro de quadrinhos ficou muito viciado nesse esquema de Marvel e DC. Aí tinham aquelas coisas que saiam e você encontrava em livraria. Tem essa também: quando o quadrinho saiu da banca e foi pra livraria, a banca ficou aberta pra ser dominada por Marvel, DC e mangá e os quadrinhos europeu e nacional caíram nas livrarias, viraram álbums. Sempre achei isso meio que uma cagada, mas teve gente que achava o futuro. De qualquer forma, o repertório do leitor médio de quadrinhos empobreceu muito porque ele não lê e não é todo dia que ele vai conseguir comprar um álbum, que é caro. Pro cara desembolsar aquela grana ele pensa duas vezes e leva um gibi de dez reais. Aí o gibi de dez reais passou a ser só Marvel e DC. Houve um bom tempo entre o declínio dessas revistas que publicavam quadrinhos europeus e nacionais em banca até o momento que a gente tá agora. Surgiu uma nova geração de leitores que conheceu quadrinhos com Marvel, DC e mangá. Aí agora acho que esses caras tão começando a sacar que “opa, peraí, tem outra coisa aqui, coisa brasileira e legal”.

Volta e meia você entra em grupo de quadrinhos no Facebook e ainda, mesmo os caras que manjam horrores de quadrinhos, não fazem ideia de vários autores brasileiros sensacionais e que eu acho que todo mundo que gosta de quadrinhos deveria conhecer. Mas o cara tá começando a sacar que tem alguma coisa rolando aí, entendeu? Por um tempo ainda vai ter essa confusão, sabe? O repertório do cara ainda é restrito, ainda tá muito dependente disso. Pô, tô diante do Luciano Salles, ao invés de pedir pra ele desenhar o boxeador dele, vou pedir a porra do Homem-Aranha, sabe? No meu ponto de vista é um desperdício. Mas é o que o cara tem. O cara foi lá e conheceu o trabalho dele, achou legal e pede um Homem-Aranha (risos). Então acho que a gente tá formando esse leitor, sabe? É um desafio. Voltando pro começo da conversa: por isso que precisava ter suporte pra formar esse público. Esse público tá praticamente andando sozinho. Na Comic Con Experience meio que aconteceu isso: quando eles abriram as vagas pro Artist Alley, o pessoal independente fez uma piada: “ah, tem cota pro independente”. Colocaram 60 mesas ali porque era bonitinho: “olha, temos independentes também”. Sabe? E no final foi uma das áreas mais movimentadas do evento. Tanto é que eles dobraram pra 2015. Teve alguma coisa ali que mesmo os caras que organizavam não botavam fé que ia ser legal. O público foi lá, viu e falou: “isso é legal!”. O cara foi provavelmente não pra ver aquilo, mas quando viu, entendeu que era legal. É um público que tá nascendo também.

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E a ideia é sair da bolha né? Você consegue imaginar alguma forma de como ir além do público leitor de quadrinho habitual?

Conversei com o DW Ribatski justamente sobre isso. Ele acha que esse cara, o leitor padrão de quadrinho, não tá interessado ou dificilmente vai se interessar por uma outra forma de quadrinho. Eu tendo a achar que não: que se o cara gosta de quadrinhos, se ele já colocou no orçamento mensal dele, uma primeira tentativa deve ser mostrar pra esse cara. Dá uma chance que você vai ver que é bom, que tem qualidade, que o desenho é bom. O cara precisa superar essa ideia de que é brasileiro, amador, tosco e não sei o que. Isso não é realidade mais. Tem coisa que é tosca e amadora, mas da mesma forma que tem nos Estados Unidos um mercado de publicações de heróis independentes que é horrível, muito pobre e tosco. Uma primeira tentativa tem que ser essa.

Acho que fugi um pouco da pergunta…De resto, é pensar a quem mais isso possa interessar. Tem um interesse crescente no Brasil em relação a design gráfico, a toda uma cultura gráfica, sabe? De prestar mais atenção pra isso, que potencializou nos últimos anos. Acho que tem muita coisa que pode ter apelo pra esse público, que não é necessariamente um leitor de quadrinhos, mas que oferece para esse público um produto que pode ser ser interessante. Quando você pega um quadrinho mais experimental, que explora mais a linguagem gráfica do negócio, pode chegar nesse cara e ser legal. A Zupi mesmo já fez publicações especiais sobre quadrinhos focando nisso. Então eu não sei. A coisa tá aí. O meu receio hoje é: tem coisa muito boa sendo feita, os autores perceberam que é muito mais fácil e barato você imprimir – tem soluções se você quiser imprimir uma quantidade bem pequena com qualidade compatível de offset, por exemplo, e encontrar um offset sem ser caro -, mas se ele ainda não consegue distribuir e divulgar, o meu medo é que em algum momento esses produtores desanimem. O cara vai lá, faz, e quase deu. Faz de novo e putz. Na terceira vez o cara resolve que depois faz quadrinho. Ele não vai priorizar isso. Acho que isso é uma questão meio urgente. Precisamos encontrar uma forma. O negócio tá aí, tá pronto. As pessoas precisam saber que existe.

E quando você diz a coisa tá aí, como você define essa “coisa”? Você vê um padrão nessa leva imensa de publicações brasileiras independentes?

Não. E acho legal até que não existe um padrão. Não tem uma tendência, existem algumas tendências. Você vê, sei lá, a gente percebe que há um lance de fazer um quadrinho mais poético, mas puxado pra esse lado que seja menos de gênero – quadrinho de humor ou terror. Essa é uma tendência. Mas você também tem uma galera tipo a Xula, o Luiz Berger, o Chico Félix, que tem muito a ver com quadrinho underground americano e humor paulistano dos anos 80, que eu acho muito legal e esses caras estão tentando, estão fazendo.

E isso é o que você considera atípico? Existe uma efervescência hoje?

Acho que sim. Toda hora aparece coisa nova. A gente que tem loja não consegue acompanhar tudo. Vira e mexe a gente descobre alguma coisa que tinha escapado.

E no total quantas foram as publicações de vocês?

Foram três anuários, o livro de contos do Leandro, o tablóide (o Panorama), três edições do Maldito Seja e o Chuva de Merda. Em julho a gente vai lançar a primeira edição de uma coleção…Você lembra da coleção MiniTonto, do (Fábio) Zimbres? Eram uns gibizinhos de bolso, uma coisa bem legal que ele fez no final dos anos 90 e começo dos anos 2000. Eram uns gibizinhos no formato A6, em que cada edição era de um autor e, na época lançou o Lourenço Mutarelli, Schiavon, Allan Sieber,…Foi muito legal e era um modelo que eu curtia muito. Uma das coisas que a gente andou pensando era exatamente essa: tem coisa que sai e é caro. Pro leitor apostar o dinheiro dele em uma coisa que não tem muita divulgação e ele não ouviu falar, pra ele apostar 30 reais numa coisa que ele não sabe se vai gostar ou não, ele pensa duas vezes. Então a gente pensou uma coleção barata e que apresentasse vários autores justamente para as pessoas poderem testar. “Se eu não gostar, o que eu perdi? Sete reais? Não é um tombo tão grande”. Então em julho a gente lança o primeiro volume dessa coleção, que vai ser com o Chico Félix e aí ela vai ter uma periodicidade bimestral, de dois em dois meses tem um número novo. Vai chamar Ugrito.

Vocês já tem quantos autores definidos?

Os quatro primeiros já estão fechado e o primeiro vai ser o Chico Félix. Depois, de dois em dois meses a gente lança um. Pra quem já conhece vai ser legal porque você já conhece e é baratinho.

E o foco vai ser em quadrinistas?

Isso. A ideia é justamente não dar um estilo pro negócio. Não vai ser só quadrinho de humor…A ideia é: quadrinho independente brasileiro mas com vários estilos, pegar uns nomes maiores, mas também colocar molecada no meio, justamente pra estimular o leitor a fazer isso.

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E tem mais alguma coisa planejada? O foco é esse?

É. Tem uma tradução que a gente tá fazendo e não é de quadrinhos, de um livro teórico sobre fanzines, chama Notes From Underground. A tradução já tá pronta e a gente lança provavelmente em setembro, no nosso evento.

Tem um negócio que eu tô louco pra contar pra alguém, mas ainda não sei se posso (risos) Enfim, tem um negócio que tá bem encaminhado, a gente tá correndo atrás e achamos que nos próximos dias temos a resposta: abrir a loja da Ugra. Na verdade esse seria o grande plano do ano. Já temos várias coisas encaminhadas, mas a gente quer ver se dá certo.

Com os mesmos produtos da Ugra?

A gente vai abrir um pouco, porque não sou louco de achar que só com quadrinho independente eu vou…Mas a gente vai abrir, a ideia é ter também Martins Fontes e Companhia das Letras, essas editoras que também estão trabalhando com quadrinhos adultos, que tem uma linha que eu acho que tem um apelo pra quem curte quadrinho independente também. Mas o foco continua sendo independente. Eu espero que até o final dessa semana a gente consiga confirmar.

Uma coisa que eu ia te perguntar, mas agora com essa história fiquei ainda mais curioso: essa história da Amazon vendendo livro importado pelo mesmo preço de nacional. Você não vê isso como um problema?

Assim, é preocupante, mas eu não vejo isso como um problema. É difícil falar. A Amazon é um predador, eles tão cagando e andando. Acho difícil conseguir prever o que os caras vão fazer, mas sei lá. De qualquer forma, pra loja virtual, 90% do que a gente tem de catálogo, mesmo das coisas importadas, escapam da Amazon. É coisa que não tem nem ISBN, não tem código de barra, não sei se eles têm como manejar isso. Mas tem algumas coisas que tão lá. Eu não sei, de imediato, considerando o caminho que eles trilharam até agora eu acho que não vai ter um impacto tão grande. A impressão que tenho é que com os importados eles vão privilegiar as coisas que vão sair com certeza, então duvido que isso tenha muito impacto pra gente. Dos nacionais eu já vi alguns pequenos editores mais animados, aí acho que em algum momento vai precisar ter uma reflexão de quem produz sobre o que quer fazer com isso. O que pretende com isso. Abrir as pernas pra Amazon ou mesmo pra um Submarino, vale a pena? Faz sentido pro independente? Ou seria melhor que o independente apostasse nele mesmo? Em ter parceiros que também são independentes e vão privilegiar o independente e que vão saber trabalhar com ele.

Se a gente pegar a experiência que já teve com música, nesse sentido, nos anos 90 quando teve aquele boom do rock alternativo, 90% das bandas que foram trabalhar com grandes gravadoras logo vieram com o rabinho entre as pernas pras gravadoras pequenas e concluíram que era melhor ser prioridade numa gravadora pequena do que serem o quinto escalão de uma gravadora grande. A Livraria Cultura recentemente andou pegando uns quadrinhos médios e independentes. Tá, ela vai te colocar na vitrine? Vai te priorizar ou vão te colocar na prateleira e você vai sumir no meio de um monte de coisa? Por melhor que venda um quadrinho independente, pros padrões de uma Cultura ou de uma Amazon, não é nada. Fica escondidinho, fica ali meio solto e perdido. É mais negócio ter espaço na Gibiteria, na Monkix ou na Ugra porque a gente sabe trabalhar aquilo. O independente, inegavelmente, tem esse lance da paixão. No final das contas acho que isso resume muito. Se alguém quer ficar rico com isso, tava fazendo outra coisa. Ou o cara é muito bobo ou ele tá fazendo isso porque gosta, tem um tanto de idealismo ali. Lógico, é muito saudável se você conseguir dosar o idealismo com uma visão que torne a coisa sustentável. Se você tiver uma mínima visão de negócio pra que seja durável. Mas é lógico que quem tá envolvido com isso, tá porque ama. Uma empresa grande vê cifra: tá vendendo, fica, não tá, tchau. Com música foi muito isso que aconteceu, as bandas ganharam tubos de dinheiro por dois anos, passou a febre, sai fora. Não vou lançar seu disco porque ele é bom, vou lançar se ele vender pra cacete. Essas lojas grandes acham lindo o independente enquanto ele estiver trazendo receita. Se trouxer mais prejuízo, sai daqui, pega os seus gibizinhos e sai fora.

Mas esse é um drama geral né? Todo artista tá tentando descobrir como viver da sua arte.

Mas então, essa é uma questão que precisa ficar clara pra todo mundo envolvido. A gente fala com um editor, se vamos pegar um material em consignação, meio que o padrão pra independente é você ficar 30% da venda e 70% fica com o autor. Ainda hoje tem quem reclama dos 30%. Aí aparece a Cultura e pede 50% e o cara dá. Tem um negócio meio vira-lata no independente ainda. De repente o cara prefere dar 50% pra Cultura e correr pro Facebook pra dizer que o gibi tá lá. Mas 30% pra uma livraria independente e pequena, o cara acha ruim. Pô, se dá pra dar 50% pra Cultura não dá pra dar 30% pra alguém que vai trabalhar o seu produto com o seu público? Não é porque você tá na Cultura que o tiozinho que nunca comprou quadrinhos vai comprar. A Cultura vai vender pelo mesmo preço da Gibiteria, Monkix, Ugra e qualquer outra, a questão é que vai lucrar 20% a mais que a gente. Ainda tem uma coisa assim, acho que seria legal o quadrinho independente pensar como independente, se assumir como independente e ver, “bom, dentro da estrutura de independente, o que a gente pode aprimorar?”. Ao invés de ficar tentando dar um passo maior do que a perna. Calma. “O que a gente faz? Vamos crescer isso ao invés de tentar dar uma cambalhota maluca?”. Acho que tem muita estrutura, muita gente legal trabalhando aqui, em toda a cadeia produtiva, do autor ao lojista, seja na loja virtual ou física. Tem muita coisa rolando aqui pra pensar dessa forma. Em último caso, o que vai sobrar é isso aqui. O resto, pode ser que role ou não. Com os grandes não dá pra contar, nunca deu, eles só vão enxergar números.

Ugra30

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Ramon Vitral

Meu nome é Ramon Vitral, sou jornalista e nasci em Juiz de Fora (MG). Edito o Vitralizado desde 2012 e sou autor do livro Vitralizado - HQs e o Mundo, publicado pela editora MMarte.

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