Já ouvi de editores que o raciocínio não procede, mas vejo uma relação direta entre a onipresença da Amazon no mercado editorial e a diminuição explícita no número de HQs autorais brasileiras publicadas por editoras nacionais no ano de 2018. Com exceção de Eles Estão Por Aí, trabalho de Bianca Pinheiro e Greg Stella, lançado pela Todavia, e O Idiota, de André Diniz, pela Companhia das Letras, não li nenhum outro grande quadrinho nacional autoral que tenha saído pelas casas editoriais responsáveis pelos principais lançamentos dos últimos anos. Não é barato nem fácil publicar obras estrangeiras em português, mas é mais prático e seguro do que investir a longo prazo e apostar em talentos ainda desconhecidos das HQs brasileiras.
Azar das editoras. Os quadrinhos nacionais mais relevantes de 2018 até o momento, além dos dois citados anteriormente, são projetos independentes, publicações sem a pompa de qualquer capa dura ou de impressões luxuosas fomentadas por colecionistas e adoradores de lombadas. As publicações brasileiras que mais me interessaram até o momento foram os zines mais recentes de Paulo Crumbim; Me Leve Quando Sair, de Jéssica Groke; Tilt, de Raquel Vitorelo; Hibernáculo, de Amanda Paschoal Miranda; os números mais recentes da coleção Ugrito; Sonoria, de Bruno Pirata; Asteróides, de Lobo Ramirez; a quinta Zica e a primeira Pé-de-Cabra. Tenho certeza da existência de mais coisa boa, independente e autoral por aí que deixei passar. No topo dessa minha lista tá o mais recente número da revista pessoal do quadrinista Diego Gerlach, Know-Haole #8 – Santuários & Altares, publicada pela Vibe Tronxa Comix.
Quanto menos você souber da proposta desse oitavo Know-Haole, mais interessante será sua experiência. Incluindo capa e quarta capa, trata-se de um gibi de 36 páginas que narra uma história transcorrida no intervalo de alguns poucos segundos. Publicação caseira, com grampo, sem qualquer luxo, em preto e branco, com o traço característico do autor, elegante e barata. Arrume logo a sua edição. E não se engane: a história dos quadrinhos brasileiros acontece em lojas especializadas e feiras de publicações independentes, não nos guichês virtuais e assépticos da Amazon.