A Marvel precisa renovar sua fórmula após Vingadores: Era de Ultron (mas provavelmente não vai)

Sou um grande defensor dos filmes da Marvel. A fórmula do estúdio é clara e a proposta também: personagens carismáticos, tramas simples, efeitos especiais sensacionais, ótimas cenas de ação e sempre tendo em vista um público além do leitor usual de quadrinhos. É exemplar o trabalho de Kevin Feige, presidente da empresa. Ele é consciente de seu mercado e pensa a longo prazo. Quando Homem-Formiga chegar aos cinemas em julho, encerrando a Fase 2 do Universo Marvel no cinema, o estúdio terá lançado 12 filmes em um intervalo de sete anos. Até julho de 2019 serão mais 10, encerrando a Fase 3 e chegando a 22 produções que compõem uma mesma linha cronológica. Sem contar os seriados. Isso tudo é inédito na história do cinema. Um trabalho impressionante que deve ser reconhecido.

Vingadores: Era de Ultron é o 11º capítulo desse universo maior e é tão bom quanto o primeiro filme do grupo, lançado em 2012 e também dirigido por Joss Whedon. As cenas com os heróis em combate impressionam e Whedon consegue aprofundar um pouco a personalidade de alguns personagens. Melhor do que a a batalha final contra Ultron, apenas os instantes tranquilos e mais introspectivos na casa do Gavião Arqueiro. Dessa vez, Tom Hiddleston não dá as caras como Loki. Pensado por Tony Stark como um possível mecanismo de defesa global complementar aos Vingadores, Ultron ganha personalidade própria e decide destruir a humanidade – trama que o diretor copiou de sua passagem como roteirista da revista dos X-Men. Por mais divertido que seja o vilão, Ultron não tem o carisma do irmão do Thor. Pau a pau com o filme anterior da equipe. Menos ousado, um pouco mais divertido.

Loki

Um parágrafo basta pra fazer uma crítica sobre qualquer filme da Marvel, incluindo a sinopse. Era de Ultron merece algumas linhas extras por representar o fim da Fase 2 da Marvel – vamos combinar: Homem-Formiga pode até ser beeeem legal, mas não vai passar de um apêndice nesse cenário maior. Ok, é uma produção sobre um grupo e reúne vários personagens, impossível aprofundar muito qualquer coisa. Como já li por aí, é a hora do orgasmo nerd, quando todo mundo quer ver mesmo o pau comendo e foda-se o resto. Beleza, até entendo, só acho pouco pra quem está compondo algo tão grandioso como a Marvel. Guardiões da Galáxia e Soldado Invernal foram as melhore sobras dessa segunda leva (e de toda a filmografia do estúdio) por oferecerem algo novo a esse universo. Era de Ultron é mais do mesmo.

Guardiões

Minha birra com esse Vingadores 2 não é muito diferente do que senti em relação à série do Demolidor. Acho muito bons e divertidos, ambos. O problema é ter a certeza que poderiam ser bem melhores. A Marvel pertence à Disney e hoje talvez seja o estúdio mais lucrativo do mundo. Entendo: quanto mais grana você tem, mais quer ter e menos quer arriscar. Beleza que pensem assim, mas não foi dessa forma que eles deixaram de ser uma editora que já esteve à beira da falência para virar uma das marcas mais ricas e cultuadas da indústria do entretenimento. Demitir Edgar Wright da direção do Homem-Formiga expõe até uma rota contrária a esse percurso.

Formiga

Lembro bem quando começou esse revival de filmes de super-heróis. Blade teve seu sucesso, mas foi com o primeiro X-Men de Bryan Singer que tudo mudou. Já li uma entrevista do Singer na qual ele falava como nunca pensou no filme dos X-Men como uma adaptação de uma história em quadrinho, mas como uma ficção científica. O longa modernizava a fórmula do Super-Homem do Richard Donner e do Batman do Tim Burton, mas com menos personalidade. Todas as adaptações de super-heróis a partir de 2000 seguiram a fórmula de Singer. Produzido pela Fox, o longa continua demais, mas não chega perto dos melhores filmes dessa onda. É lembrado principalmente por ter sido primeiro. Assim como esse X-Men inicial, tanto Era de Ulton quanto o seriado do Demolidor são ótimos, mas acredito que ambos, a longo prazo, serão pequenos tanto no contexto maior sendo construído pela Marvel, quanto quando comparados com outras obras do mesmo gênero.

X-MenSinger

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Ramon Vitral

Meu nome é Ramon Vitral, sou jornalista e nasci em Juiz de Fora (MG). Edito o Vitralizado desde 2012 e sou autor do livro Vitralizado - HQs e o Mundo, publicado pela editora MMarte.

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