Passei mais da metade de 2014 fora do Brasil e acabei lendo muito menos hqs nacionais do que gostaria. Outra coisa: não gosto de falar de quadrinhos brasileiros como um gênero. Há muita gente fazendo uma variedade imensa de obras distintas e não vejo sentido tratar tudo isso como uma coisa só. Feita a minha ressalva em relação ao título do post, deixo ele como está pois só queria dizer como tem coisa foda sendo feita no Brasil. Estava pensando sobre os grandes lançamentos inéditos em solo brasileiro no ano e mais da metade do meu top 10 ficaria ocupada por HQs nacionais.
Não consegui ler todos os títulos lançados com verba do ProAC, mas li três trabalhos memoráveis. Fui ler só recentemente, mas A Vida de Jonas do Marcelo e do Magno Costa me tirou do sério. O mesmo aconteceu com Quaisqualigundum, do Davi Calil e do Roger Cruz – aliás, até hoje gostei de tudo que li com o selo do pessoal do Dead Hamster. E o Cumbe do Marcelo D’Salete? É o grande quadrinho brasileiro de 2014. Sempre gostei da arte e das narrativas sujas e urbanas do D’Salete, mas ver um livro tão bom, ambientado num contexto tão diferente de seu habitual, só ressalta o grande autor que ele é.
Também pirei no L’Amour: 12 oz do Luciano Salles. A primeira vista, pela distribuição dos quadros, o gibi parece convencional. No entanto, ao perceber as experimentações que o autor faz com a passagem do tempo dentro das possibilidades da linguagem dos quadrinhos, fiquei impressionado. Muito bom.
E não posso deixar de mencionar a Xula e o Vida de Prástico. A primeira é editada pela Luciana Foraciepe, com trabalhos de Bruno di Chico, Bruno Maron, Calote e Ricardo Coimbra. É humor inteligente, nada politicamente correto, mas refinado pra caramba e assinado por quatro das mentes mais subversivas e originais dos quadrinhos nacionais. O mesmo vale pro Vida de Prástico, a primeira coletânea dos trabalhos do Ricardo Coimbra. Um dos grandes cronistas dos nossos tempos, que faz isso em forma de hq.
Quero muito mais disso tudo em 2015.