Viu que o Chris Ware assina a capa da próxima edição da New Yorker? A arte veio acompanhada do título Still Life – sendo a primeira capa dele para publicação em seguida a Bedtime, homenagem aos profissionais de saúde trabalhando no combate da pandemia do novo coronavírus.
A editora de arte da New Yorker, Françoise Mouly, conta no site da publicação que essa próxima edição reúne relatos sobre a vida de isolamento imposta aos cidadãos de Nova York durante a pandemia. O texto bem acompanhado de um relato do Chris Ware sobre esse trabalho novo:
“Tendo morado em Chicago por trinta anos, só estive em Nova York de visita, mas amo essa cidade como nenhuma outra. Cheia de pessoas imprevisíveis, lugares inimagináveis e momentos indeterminados, a vida é medida não em horas, mas em minutos densamente compactados que podem preencher um dia com a vida útil de um ano. Ultimamente, no entanto, fechados em nossas casas contra esse terror mundial, o tempo em todos os lugares pareceu travar, quase como em O Feitiço do Tempo (…) Estamos na maré baixa, mas, como minha esposa, professora de biologia, me disse hoje de manhã: ‘Por um tempo, precisaremos dar um passo atrás e observar’. E realmente, quando você faz isso, é muito maravilhoso”.
Você lê a íntegra desse relato do Chris Ware clicando aqui.
Posts por data abril 2020
Sarjeta #7: Quadrinistas e a pandemia do novo coronavírus
Dia desses alguém perguntou para o Neil Gaiman no Twitter como ele consegue escrever e se manter focado sem se preocupar com a pandemia do novo coronavírus. “Muito, muito mal”, respondeu o roteirista de Sandman , um dos maiores clássicos dos quadrinhos mundiais, e autor de obras como Deuses Americanos, Coraline e Belas Maldições
Para a sétima edição da Sarjeta, a minha coluna no site do Instituto Itaú Cultural, eu conversei com alguns quadrinistas brasileiros para saber do impacto da pandemia do novo coronavírus por aqui. Na entrevista que fecha a coluna, bati um papo com a quadrinista Cecilia Marins, autora da HQ Parque das Luzes.
Você lê a sétima Sarjeta clicando no link a seguir: Sarjeta #7: Quadrinistas relatam prejuízos e queda de produção durante a pandemia.
Papo com Jason, autor de A Gangue da Margem Esquerda: “Estamos caminhando para uma catástrofe que mudará tudo. O futuro é muito incerto”
A Gangue da Margem Esquerda é o terceiro álbum do quadrinista norueguês Jason publicado no Brasil. O primeiro trabalho do autor lançado por aqui foi Sshhhh!, coletânea de histórias curtas e mudas que vão do humor ao macabro. Depois saiu Eu Matei Adolf Hitler, sobre um assassino profissional contratado por um cientista para viajar no tempo, matar o líder nazista e impedir o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial.
Entrevistei o artista pela primeira vez em 2017, na época do lançamento de Sshhh! por aqui, e, depois, no ano passado, quando Eu Matei Adolf Hitler chegou às livrarias nacionais. Bati agora um novo papo com Jason, dessa vez sobre A Gangue da Margem Esquerda, obra vencedora do Prêmio Eisner de Melhor Título Estrangeiro no ano de 2007. Transformei essa conversa em matéria que você lê por aqui.
Reproduzo a seguir a íntegra da minha entrevista mais recente com o autor norueguês. Ele falou sobre a concepção da trama sobre um roubo envolvendo Ezra Pound, James Joyce, Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway na Paris dos anos 1920; também tratou de suas técnicas e métodos de trabalho e expôs um pouco de seus temores sobre o impacto da pandemia do novo coronavírus no mercado de HQs. Saca só:
“Parte de ser quadrinista é que você já é praticante de distanciamento social”

Antes de tudo, como você está? Como você está encarando a pandemia do coronavírus? O contexto de isolamento social afetou de alguma forma sua rotina diária?
Parte de ser quadrinista é que você já é praticante de distanciamento social. Você trabalha sozinho em casa a maior parte do tempo, fazendo uma corrida ou respirando ar fresco de vez em quando. Portanto, não há grandes mudanças. Eu tento trabalhar um pouco todos os dias. Mas, como sempre, o YouTube é o grande inimigo. Você pode perder facilmente algumas horas por lá. E sempre há livros ou quadrinhos para ler.
Como você acha que essa realidade que estamos vivendo vai afetar o seu ambiente profissional? Você tem conversado com outros autores e editores sobre essa situação?
Não, eu não conversei com mais ninguém sobre isso. Mas sou publicado na maior parte das vezes por editoras pequenas, administradas por duas pessoas. E o mercado já é difícil, pelo menos na França, com muitas publicações novas a cada semana. Espero que todos os meus editores ainda estejam por aí e que as lojas de quadrinhos também se saiam bem quando meu próximo livro for publicado na próxima primavera.
“Lembro dos meus 30 e poucos anos como uma época em que me preocupava em ganhar dinheiro suficiente apenas para pagar aluguel”

Você pode me contar um pouco sobre o ponto de partida de A Gangue da Margem Esquerda? Você lembra de como surgiu a ideia desse livro?
Eu gosto do Hemingway e li muitas biografias sobre ele e sobre a Paris dos anos 1920. Foi um período emocionante, com muitas pessoas interessantes morando lá. Eu senti que era um bom lugar para ambientar uma história. Lembro dos meus 30 e poucos anos como uma época em que me preocupava em ganhar dinheiro suficiente apenas para pagar aluguel e pensando se tinha feito a escolha errada estudando ilustração na escola de artes e depois tentando ganhar a vida como ilustrador e quadrinista. Eu consigo me relacionar com muitos dos escritores na Paris dos anos 1920 também preocupados com dinheiro. E, por último, assisti ao filme O Grande Golpe, de Stanley Kubrick, que foi a inspiração para contar a história de um assalto fora de ordem cronológica.
Por que utilizar autores e artistas reais? E por que transformá-los em quadrinistas?
Para criar um distanciamento dos artistas, deixando claro que isso é uma fantasia e não fatos biográficos. Usei alguns fatos, mas ao mesmo tempo tive liberdade para inventar uma história. Além disso, achei engraçado transformar Hemingway e Scott Fitzgerald em quadrinistas.
“Você precisa aceitar que poderá fazer algo que ama, mas terá que enfrentar a realidade financeira como resultado”

Eu estava pensando sobre os dramas e dilemas desses artistas e autores na vida real e como eles poderiam ser semelhantes aos de quadrinistas. Você crê em muitas similaridades entre a vida profissional e as dificuldades de um pintor ou escritor e a vida profissional e os dilemas de um quadrinista?
Sim, acho que são praticamentes os mesmos para todos os artistas, sejam escritores, quadrinistas ou artistas plásticos. Na maioria das vezes, não há muito dinheiro envolvido. Você precisa aceitar que poderá fazer algo que ama, mas terá que enfrentar a realidade financeira como resultado. Sem grandes apartamentos, sem férias caras, sem carros sofisticados. A menos que você seja daquele sortudo 1% que terá um sucesso ou conseguirá um contrato de cinema e poderá ganhar muito dinheiro. Provavelmente, depois que morrermos, é que o dinheiro vai entrar.
O que você vê de mais especial na Paris dos anos 1920? Quais seriam as motivações para todos esses artistas se reunirem nesse mesmo local durante esse mesmo período?
Bem, a cidade era barata. E muitos desses expatriados americanos já haviam estado na Europa durante a guerra, como soldados ou motoristas de ambulância. Paris significava liberdade. Na América havia proibição. E talvez a distância torne as coisas mais claras. Hemingway viveu em Paris, mas escreveu histórias sobre sua infância e juventude nos EUA.
“Não tenho nenhuma rotina em particular, exceto não escrever um roteiro completo”

O quanto você acha que o mundo mudou nesse intervalo de 100 anos entre 1920 e 2020?
Eu não acho que as pessoas mudaram muito. A comunicação mudou. Há a internet e Iphones. Mesmo para mim, crescido nos anos 70, as coisas mudaram. Quando eu criança, na Noruega, havia uma estação de TV e uma estação de rádio. E as mudanças climáticas estão acontecendo agora, sabemos que o ambiente que nós demos como certo agora pode desaparecer, que estamos todos caminhando para uma catástrofe que mudará tudo. O futuro é muito incerto.
Eu gosto muito quando um autor se impõe algumas restrições. Penso nos seus grides fixos, por exemplo. Você gosta desse exercício? Há alguma restrição particular que te interessa mais?
Não vejo o gride como uma restrição. Para mim, ele é apenas esteticamente mais agradável. E assim um painel não recebe mais importância que outro. Cabe ao leitor decidir qual é importante. Então, na maior parte do meu tempo como cartunista, usei grides de 4 painéis, 6 painéis, 8 painéis ou 9 painéis. Houve um período em que fiz muitas histórias silenciosas. Isso foi uma restrição, não usar palavras. Bem, na verdade, eu não gostava de escrever, então ficou mais fácil não usar palavras. E então, em algum momento, esse se tornou o desafio, escrever diálogos. E agora eu gosto de uma combinação. Ter diálogo, mas também ter painéis silenciosos, se isso contar a história de maneira mais eficaz.
“Às vezes, tenho o começo e, enquanto estou trabalhando nisso, penso no que pode acontecer a seguir”

Você pode me falar um pouco sobre os seus métodos de trabalho? Você tem alguma rotina em particular? Você está mais habituado a alguma técnica em particular? A Gangue da Margem Esquerda foi todo com tinta e papel, certo?
Sim, é tudo tinta no papel. Não tenho nenhuma rotina em particular, exceto não escrever um roteiro completo. Improviso e crio a história enquanto estou trabalhando nela. Às vezes, tenho o começo e, enquanto estou trabalhando nisso, penso no que pode acontecer a seguir. Às vezes eu tenho pedaços de diálogos. Outras vezes, as imagens aparecem primeiro e eu decido o diálogo enquanto desenho. Às vezes, faço esboços em miniatura, faço a maior parte do trabalho diretamente na página. Atualmente, eu desenho principalmente com um grid de 4 painéis. Não preciso trabalhar cronologicamente, trabalho em sequências e as coloco na ordem correta no final. Isso facilita a edição do livro. Se uma página ou uma sequência não funcionar, eu posso removê-la, sem precisar substituí-la por outra coisa.
Você pode recomendar algo que esteja lendo/assistindo/ouvindo no momento?
Eu reli alguns quadrinhos que não pegava desde que comprei. Christophe Blain, o cartunista francês, já li muitas coisas dele. Eu pretendo ler alguns dos romances russos que desisti pela metade anteriormente, como O Idiota e Os Irmãos Karamazov. Estou revendo Memórias de Brideshead, a série de TV com Jeremy Irons. Eu revejo O Picolino e os velhos filmes de Fred Astaire e Ginger Rogers. Columbo é sempre divertida de assistir e muito relaxante. Eu não tenho Netflix nem uso streaming, então tudo isso é DVD. Música, há muito para mencionar. Ouvi alguns CDs de John Renbourn que acabei de ganhar.

Especial Vitralizado: Jason fala sobre A Gangue da Margem Esquerda, os autores da Geração Perdida e o impacto da pandemia no mercado de HQs
“Por que a gente faz quadrinho?”, questiona Ezra Pound a Ernest Hemingway durante uma partida de pingue-pongue no reduto boêmio parisiense do Quartier Latin, em algum momento dos anos 1920. A resposta parte do também quadrinista James Joyce: “É porque líamos quadrinhos quando éramos crianças. Se tivéssemos jogado futebol ou subido em árvores, hoje seríamos normais. Teríamos trabalhos de verdade. Seríamos motoristas de ônibus ou carpinteiros e seríamos felizes”.
O autor irlandês encerra com um lamento: “Agora é tarde demais. É a única coisa que sei fazer. Não consigo dirigir um ônibus, nem acertar um prego com um martelo. Mas consigo contar uma história com desenhos e foder minha vista um pouco mais a cada dia. Estamos fodidos”.
Recém-lançado no Brasil pela editora Mino, com tradução de Dandara Palankof, A Gangue da Margem Esquerda apresenta quatro dos maiores nomes da literatura inglesa como autores de histórias em quadrinhos. Não só. Desenhados como animais antropomorfizados, Ezra Pound, James Joyce, Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway estão insatisfeitos com os rumos de suas carreiras e suas dificuldades financeiras, então arquitetam um assalto à mão armada.
“Provavelmente, depois que morrermos, é que o dinheiro vai entrar”

Terceira obra do quadrinista norueguês Jason publicada no Brasil, a HQ rendeu ao autor o Prêmio Eisner de Melhor Título Estrangeiro no ano de 2007. Seu primeiro trabalho lançado por aqui foi Sshhhh!, coletânea em preto e branco de histórias curtas e mudas que vão do humor ao macabro. Depois saiu Eu Matei Adolf Hitler, sobre um assassino profissional contratado por um cientista para viajar no tempo, matar o líder nazista e impedir o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial.
A Gangue da Margem Esquerda segue muito dos padrões dos demais trabalhos de Jason, como o uso de personagens antropomorfizados e a elegância narrativa caracterizada principalmente pelo uso de um gride constante de nove quadros por página. O contraste maior está na trama.

“Eu gosto do Hemingway e li muitas biografias sobre ele e sobre a Paris dos anos 1920. Foi um período emocionante, com muitas pessoas interessantes morando lá. Eu senti que era um bom lugar para ambientar uma história”, disse Jason em entrevista por email ao Vitralizado.
Jason consegue se relacionar com muitos desses escritores e artistas que viveram na Paris de 100 anos atrás. Na avaliação dele, na maior parte do tempo, a principal preocupação desses autores era a mesma que ele tinha quando estava em seus 30 e poucos anos, recém-saído da faculdade e tentando viver como quadrinista: ganhar dinheiro para pagar o aluguel. Para Jason, dificuldades financeiras tendem a ser um drama para 99% dos artistas.
“Na maioria das vezes, não há muito dinheiro envolvido. Você precisa aceitar que poderá fazer algo que ama, mas terá que enfrentar a realidade financeira como resultado. Sem grandes apartamentos, sem férias caras, sem carros sofisticados. A menos que você seja daquele sortudo 1% que terá um sucesso ou conseguirá um contrato de cinema e poderá ganhar muito dinheiro. Provavelmente, depois que morrermos, é que o dinheiro vai entrar”.
“Achei engraçado transformar Hemingway e Scott Fitzgerald em quadrinistas”

E por que fazer dos quatro protagonistas autores de histórias em quadrinhos?
“Para criar um distanciamento dos artistas, deixando claro que isso é uma fantasia e não fatos biográficos. Usei alguns fatos, mas ao mesmo tempo tive liberdade para inventar uma história. Além disso, achei engraçado transformar Hemingway e Scott Fitzgerald em quadrinistas”.
Fitzgerald é mostrado lamentando a falta de interesse da esposa, Zelda, em suas HQs e Hemingway protagoniza uma cena na qual busca conselhos com a mentora Gertrude Stein – creditada como responsável pela criação do termo Geração Perdida para designar esse grupo de autores expatriados na Paris dos anos 1920.
“Que tipo de lápis está usando?”, questiona Stein, também transformada em quadrinista. Depois ela instrui: “Nunca copie uma foto. Se precisar desenhar um automóvel, saia, ache um e desenhe em seu caderno de rascunhos, certo?”.

Já a ideia do roubo partiu de uma sessão de O Grande Golpe (1956), terceiro filme de Stanley Kubrick, com o ator Sterling Hayden no papel de um ladrão recém-saído de um período de cinco anos atrás das grades que planeja um último assalto antes de se casar e se aposentar da vida de crimes.
A metade final de A Gangue da Margem Esquerda, focada no crime executado pelo quarteto de quadrinistas, tem influência direta da narrativa fora de ordem cronológica do assalto mostrado no filme de Kubrick. A ação e os desdobramentos do roubo arquitetado por Hemingway com o auxílio de seus três amigos são apresentados sob os pontos de vista de sete personagens.
Em relação à produção do quadrinho, Jason diz ter seguido sua prática habitual de tinta e papel, sem uso de computador.
“Improviso e crio a história enquanto estou trabalhando nela”

“Não tenho nenhuma rotina em particular, exceto não escrever um roteiro completo. Improviso e crio a história enquanto estou trabalhando nela. Às vezes, tenho o começo e, enquanto estou trabalhando nisso, penso no que pode acontecer a seguir. Às vezes eu tenho pedaços de diálogos. Outras vezes, as imagens aparecem primeiro e eu decido o diálogo enquanto desenho. Às vezes, faço esboços em miniatura, faço a maior parte do trabalho diretamente na página”.
Hoje aos 54 anos, Jason reside desde 2007 na cidade francesa de Montpellier. Ele está atualmente confinado em casa, respeitando o isolamento social imposto pelas autoridades locais durante a pandemia do novo coronavírus. Mas ele conta que sua vida como o autor de quadrinhos já impõe certo distanciamento social ao trabalhar em casa na maior parte do tempo.
Ele acredita ainda estar cedo para mensurar o impacto da pandemia no mercado de quadrinhos, mas mostra-se pessimista: “Sou publicado na maior parte das vezes por editoras pequenas, administradas por duas pessoas. E o mercado já é difícil, pelo menos na França, com muitas publicações novas a cada semana. Espero que todos os meus editores ainda estejam por aí e que as lojas de quadrinhos também se saiam bem quando meu novo livro for publicado na próxima primavera”.

Papo com Paulo Floro, coeditor da revista Plaf: “Queremos fortalecer cada vez mais a rede de lojas especializadas e espaços que vendem e fomentam a produção de quadrinhos autorais brasileiros”
A quarta edição da revista Plaf tem lançamento marcado para sábado, dia 25 de abril, às 16h, em uma live no perfil da loja e editora Ugra Press no Instagram. O evento será um bate-papo entre uma das coeditoras da publicação, a jornalista Dandara Palankof, e o editor e sócio da Ugra, Douglas Utescher.
A Plaf chega em seu quarto número tratando do futuro dos quadrinhos no Brasil, com textos abordando modelos de distribuição e o uso da linguagem das HQs. Entre os destaques da edição estão um texto assinado pelo editor da Veneta, Rogério da Campos, e uma entrevista da pesquisadora Maria Clara Carneiro com a quadrinista Luli Penna.
A publicação ainda conta com um texto da jornalista Gabriela Borges sobre obras experimentais, uma matéria sobre a democratização de eventos de quadrinhos, um perfil do quadrinista José Marcio Nicolosi e HQs de Adri A. e Henrique Magalhães. A capa é assinada pela quadrinista Amanda Miranda.
Além do lançamento dessa quarta edição da Plaf, também foi divulgado o novo site da publicação, no qual as três edições prévias estarão disponíveis para leitura gratuita.
Bati um papo por email com o jornalista Paulo Floro, coeditor da Plaf ao lado de Dandara Palankof e Carol Almeida. Na conversa a seguir ele fala um pouco sobre os destaques desse quarto número, faz um balanço da publicação até aqui e faz uma breve análise sobre os possíveis impactos da pandemia do novo coronavírus na cena brasileira de HQs. Saca só:
A Plaf tá chegando agora em sua quarta edição. Qual balanço você faz desse projeto?
Estamos empolgados que o projeto esteja vivo e com novidades para o futuro, pois desde o início sabíamos das possibilidades que ele poderia alcançar. Já tinha experiência na cobertura de quadrinhos e na edição de um veículo, a Revista O Grito!, mas nada se compara a tocar uma edição impressa. É um desafio enorme e fico feliz que a gente tenha conseguido se manter, apesar de todos os percalços. Tivemos contratempos após a segunda edição, que atrasou o lançamento da 3, mas isso nos deu experiência para melhorar, sobretudo na questão da distribuição. Queremos fortalecer cada vez mais a rede de lojas especializadas e espaços que vendem e fomentam a produção de quadrinhos autorais brasileiros.
A cena de quadrinhos no Brasil segue forte e queremos colaborar com essa cena discutindo e refletindo sobre ela. Mesmo enfrentando uma crise financeira anterior a essa pandemia, vemos artistas e editoras interessados em explorar diferentes possibilidades dos quadrinhos e trazendo discussões interessantes, apesar das adversidades. É um momento bem interessante e estamos felizes em poder participar de alguma maneira.
Além desse número 4, estamos já editando a número 5, que sairá ainda este ano. E também já iniciamos conversas com parceiros para manter o projeto por mais tempo. Queremos também pensar projetos atrelados à revista, mas ligados aos quadrinhos, ainda tudo muito incipiente. Temos tido um bom retorno de leitores e artistas a cada número da Plaf e esgotamos praticamente as tiragens anteriores, então, acredito que o potencial da revista para crescer segue forte.
“É o tempo de descobrir o serviço de entregas de sua comic shop preferida ou pelo menos checar como eles estão se mantendo nesses dias de quarentena”

O que você pode adiantar sobre o perfil do José Marcio Nicolosi e da entrevista com a Luli Penna?
O perfil do Nicolosi faz parte da nossa seção HQPedia, que tem como proposta fazer um perfil de autores e autoras brasileiras de diferentes épocas. Queríamos falar de alguém que tem um estilo muito próprio, mas que também atua no quadrinho mainstream brasileiro, que é o caso dele. O trabalho dele é incrível, tanto na Turma da Mônica quanto em sua série Fetichast. Já a entrevista de Luli Penna foi feita por Maria Clara Carneiro e traz uma conversa bem interessante sobre como os quadrinhos podem nos ajudar a recontar o passado, trazer novos olhares sobre o presente.
Gostei muito da capa dessa quarta edição da Plaf. Por que convidar a Amanda Miranda? Vocês passaram alguma pauta específica para a produção desse trabalho?
Somos suspeitos, mas essa capa de Amanda ficou mesmo linda. Quando ela nos enviou ficamos abobalhados, de cara. Pensamos nela depois de ler Hibernáculo, que é uma HQ incrível com um domínio grande da ambientação. É isso que mais curto no trabalho de Amanda, essa capacidade que ela tem de criar um clima específico, um “espaço” próprio, que te deixa preso ali. Como aconteceu com os outros autores da capa, nós conversamos sobre a pauta principal da edição, de uma maneira mais geral. Então ela sabia que falaríamos sobre futuro, mudanças, perspectivas, etc. Mas o direcionamento e visão foi totalmente livre. Tanto a capa quanto a HQ principal, também assinada por ela, comunicam bem o que queremos passar com essa edição.

Essa quarta Plaf trata do futuro dos quadrinhos tanto em termos de linguagem quanto de negócios. Por que esses temas?
Nós editamos a Plaf 3 e 4 quase ao mesmo tempo e pensamos que uma maneira de encerrar essa primeira fase do projeto (#1 a #4) fosse falar de passado (a edição #3) e futuro (esta edição #4). Acho que isso nos ajuda a compreender esse momento atual ao mesmo tempo em que nos dá abertura para pensar possibilidades e perspectivas. Então, essa revista discute futuro em termos mercadológicos, como é o caso do texto de Rogério de Campos e da reportagem das novas convenções (PerifaCon/Palafitacon) como em linguagem, que é a matéria de Gabriela Borges. Mas tem também um olhar sobre o país a partir das HQs, como no papo sobre Sem Dó, da Luli Penna.
“A pandemia vai nos ajudar a entender melhor a importância de fortalecer uma cena onde todo mundo seja beneficiado”

Ainda sobre o futuro… O FIQ foi adiado, autores e editoras estão suspendendo lançamentos e lojas especializadas estão fechadas. Ainda estamos no olho do furacão, mas você já consegue dimensionar o impacto da pandemia do novo coronavírus no mercado brasileiro de quadrinhos?
Estávamos pensando em lançar a edição da 5 no FIQ e todo nosso planejamento estava voltado para isso. A 4 também seria lançada em São Paulo, estava tudo organizado. Acho que, em um primeiro momento, a quarentena deixou todo mundo sem eixo. Agora, ainda que eu tenha tentado ter uma atitude mais assertiva para esse momento, ainda acho tudo muito nebuloso, incerto. É um momento difícil, sobretudo por conta do contexto desse desgoverno que torna tudo ainda pior. Estamos trabalhando, isolados, na próxima edição e esperando definições.
Para esta edição 4 decidimos realizar um lançamento virtual, com uma live, porque acho que a cena precisa seguir, na medida do possível, ativa. É o momento da gente exercitar a solidariedade e pensar no que pode contribuir de alguma maneira. Ligar para a banca preferida, saber se estão entregando gibis, revistas. É o tempo de descobrir o serviço de entregas de sua comic-shop preferida ou pelo menos checar como eles estão se mantendo nesses dias de quarentena. E, mais do que nunca, ter a consciência de que o quadrinho é parte de uma economia criativa, não é diletantismo, e que todos os profissionais são afetados com esse isolamento.
Quando tudo isso passar, as grandes redes de livrarias e multinacionais como a Amazon terão sobrevivido (e talvez estejam ainda mais fortalecidas), mas aquela loja que te apresentava novos artistas e que guardava os lançamentos pra você, talvez tenha fechado as portas. Não gosto de ser aquele que fica dizendo onde a pessoa deve ou não comprar ou ficar policiando comportamentos de consumo, mas acho que essa pandemia vai nos ajudar a entender melhor a importância de fortalecer uma cena onde todo mundo seja beneficiado (artistas, editores, lojistas e público).

– Prêmio Grampo de Grandes HQ – Entrevistas com os autores e matérias sobre as obras vencedoras 2016/2020
Encerro a minha cobertura do Prêmio Grampo 2020 de Grandes HQs reunindo em um único post todo o conteúdo produzido no Vitralizado sobre as 15 obras vencedoras dos Grampos de Ouro, Prata e Bronze ao longo dessas cinco primeiras edições da premiação.
Prêmio Grampo 2020 de Grandes HQs
-Grampo de Ouro 2020: Minha Coisa Favorita é Monstro (Companhia das Letras), por Emil Ferris (tradução: Érico Assis)
*Papo com Emil Ferris, autora de Minha Coisa Favorita é Monstro: “Estamos aqui para contar histórias e para ouvir, de peito aberto, para que cresçam nossa sabedoria e nossa empatia;
*Americana cria HQ mais celebrada do momento com esferográficas e canetinhas.
-Grampo de Prata 2020: Luzes de Niterói (Veneta), por Marcello Quintanilha
*Papo com Marcello Quintanilha, autor de Luzes de Niterói: “Do meu ponto de vista, o horizonte apresenta nuvens de tempestade”;
*Dia de caos do pai futebolista inspira HQ do premiado Marcello Quintanilha;
*Ninguém retratou o futebol em quadrinhos, em suas nuances sociais e estéticas, como Marcello Quintanilha em Luzes de Niterói.
-Grampo de Bronze 2020: Intrusos (Nemo), por Adrian Tomine (tradução: Érico Assis)
*Papo com Adrian Tomine, autor de Intrusos: “Já escrevi histórias de várias maneiras, mas o ingrediente em comum é o tempo. Gosto de pensar numa história durante bastante tempo, às vezes durante anos”;
*Fenômeno dos quadrinhos americanos, ‘Intrusos’, de Adrian Tomine, chega ao Brasil.

Prêmio Grampo 2019 de Grandes HQs
-Grampo de Ouro 2019: Ayako (Veneta), por Osamu Tezuka (tradução: Marcelo Yamashita Salles e Esther Sumi)
*HQ sombria do autor de Astro Boy chega ao Brasil pela primeira vez.
-Grampo de Prata 2019: A Arte de Charlie Chan Hock Chye (Pipoca & Nanquim), por Sonny Liew (tradução: Maria Clara Carneiro)
*Papo com Sonny Liew, o autor de A Arte de Charlie Chan Hock Chye: “O livro virou referência no debate sobre censura em Singapura”;
*HQ boicotada em Singapura contesta história oficial da região.
-Grampo de Bronze 2019: Eles Estão Por Aí (Todavia), por Bianca Pinheiro e Greg Stella
*Universo em expansão: o casal Bianca Pinheiro e Greg Stella se une para criar a HQ nonsense Eles Estão por Aí.

Prêmio Grampo 2018 de Grandes HQs
-Grampo de Ouro 2018: Angola Janga – Uma História de Palmares (Veneta), por Marcelo D’Salete
*Papo com Marcelo D’Salete, o autor Angola Janga: “Temos uma subcidadania praticada e reafirmada cotidianamente. O poder permanece na mão de poucos”;
*HQ sobre instantes finais do Quilombo dos Palmares reflete o Brasil de hoje.
-Grampo de Prata 2018: Aqui (Cia das Letras), por Richard McGuire (tradução: Érico Assis)
*Papo com Richard McGuire, o autor de Aqui: “Eu sempre penso na possibilidade de que todas as coisas estejam acontecendo ao mesmo tempo, que o tempo é apenas uma ilusão”;
*Obra-prima das HQs sobre o tempo chega ao Brasil após 25 anos de produção.
-Grampo de Bronze 2018: Mensur (Cia das Letras), por Rafael Coutinho
*Rafael Coutinho e os sete anos de produção de Mensur – Parte I: “Cheguei a encarar como um projeto que eu nunca iria acabar e que eu teria que viver com essa dívida”;
*Rafael Coutinho e os sete anos de produção de Mensur – Parte II: “O protagonista precisava ser a representação das múltiplas facetas da agressividade dentro da vida de alguém”;
*Rafael Coutinho e os sete anos de produção de Mensur – Parte III: “É a estética do preto e branco do Cachalote com características da fragmentação do Beijo no âmbito de uma história adulta”.

Prêmio Grampo 2017 de Grandes HQs
-Grampo de Ouro 2017: Bulldogma (Veneta), por Wagner Willian
*Aliens e um bulldogue francês: Bulldogma, novo trabalho do premiado Wagner Willian, passeia por diversos gêneros;
*Bulldogma: Wagner Willian lança a primeira grande HQ brasileira de 2016.
-Grampo de Prata 2017: Você é um Babaca, Bernardo (Mino), por Alexandre S. Lourenço
*Quadrinista brinca com a linguagem das HQs em obra sobre a relação entre cotidiano e amor.
-Grampo de Bronze 2017: Desconstruindo Una (Nemo), por Una (tradução: Carol Christo)
*Papo com Una, autora de Desconstruindo Una: “Sem o feminismo, minhas experiências não faziam sentido”.

Prêmio Grampo 2016 de Grandes HQs
-Grampo de Ouro 2016: Aventuras na Ilha do Tesouro (Mino), por Pedro Cobiaco
*Pedro Cobiaco e a passionalidade aflorada de Aventuras na Ilha do Tesouro.
-Grampo de Prata 2016: Talco de Vidro (Veneta), por Marcello Quintanilha
-Grampo de Bronze 2016: Dupin (Zarabatana), por Leandro Melite
*Papo com L.M. Melite, o autor de Dupin, Desistência do Azul e Leviatã.